Continuação do post anterior
Da tentação, “é tratar de fugir e às léguas...”
Pouco depois de Plinio haver
ingressado nas fileiras do movimento mariano, suas atividades apostólicas
começaram a lhe tomar todo o tempo disponível. Sua irmã, Dª Rosée, ia passar
longas temporadas com o marido e a filha na fazenda em Cambará, e algumas vezes
Dª Lucilia a acompanhou.
Famosa por sua fecunda terra
roxa, aquela região estava em franco desenvolvimento. Embora cerradas matas
exigissem denodo e tenacidade dos exploradores que por lá se aventuravam, os
riscos eram logo compensados pela generosidade do solo, que prodigamente
cumulava de frutos aqueles que o feriam com o ferro do arado.
Ciente das dificuldades que o
início da exploração de uma fazenda sempre acarreta, Dª Lucilia incentivava o
casal em seus meritórios esforços e, sobretudo, estimulava-os a confiarem na
divina proteção que a tudo provê e assiste.
Porém, se por sua dedicação
maternal era levada a acompanhar sua filha a tão inóspito local, a metade de
seu coração ficava em São Paulo, onde havia deixado seu filho entregue às
batalhas da vida: estudos universitários, emprego, serviço militar, além da
pressão exercida pelo ambiente para fazê-lo entrar na farândola da chamada
“modernidade”, hoje tão fora de moda. Porém, naqueles longínquos anos o brilho
fátuo daquela “modernidade” ofuscava de tal modo os homens que estes não viam o
abismo no qual acabariam por se precipitar.
O demônio, para mais facilmente
tentar a humanidade, fazia como que coruscar de modo especial tudo quanto
representasse uma ruptura com a Civilização Cristã, criando desse modo a ilusão
de ser o progresso fruto do abandono da Fé. Não romper com os Mandamentos
equivalia a perder irremediavelmente o trem do futuro... Assim, o erro e o mal
se apresentavam com extrema jactância.
Dª Lucilia era para seus filhos
uma estrela a brilhar durante a noite, indicando-lhes o caminho certo e
conduzindo-os a porto seguro. Com sua presença, a insidiosa ação do espírito
das trevas diminuía a intensidade. Por seu modo de ser, lembrava continuamente
não estar a felicidade na febricitação e na busca desenfreada das riquezas e do
prazer, mas sim no sereno gozo da paz de consciência, que só o cumprimento da
Divina Lei é capaz de dar.
Uma carta, escrita de Cambará,
deixa entrever o receio de que suas ausências amortecessem a vigilância e a
resistência de seu filho, conclamando-o a não ceder à atração dos fulgores
enganosos de satanás, por ela denominado “mefistófeles”.
Cambará, 16-5-929
Filho querido!
Tua carta de ontem deixou-me bem apreensiva, como bem podes imaginar,
pois, conquanto tenha grande confiança em teus sentimentos, e na tua fé,
tentação sempre é tentação, e por isso é preciso que te lembres que sabemos e
conhecemos todos quem é o mefistófeles, e portanto, é tratar de fugir e às
léguas, e agarrando-se a um Crucifixo! E o mais interessante, é que para
“obrar”, aproveita-se de minha ausência... gosta da sombra! Diga-lhe1 que estás
numa época muito especial de tua vida, de que pode depender teu futuro, e em
que precisas usar de toda tua energia para aguentar o exercício militar; que,
dada a tua negação pelo exercício em geral, e consequente falta de habito, te
trará grande fadiga, além das quatro matérias a preparar, e ainda teu emprego;
e que, portanto, pedes-lhe que adie estes convites para mais tarde. E que,
entre nós, “Deus o permita na Sua infinita misericórdia”!, fiquem para as
“calendas gregas”!!!
Sinto imenso que não possas passar aqui uns dias conosco.....
principalmente à noite, acho uma falta enorme no meu filhão querido. Tens ido
aos exercícios militares, e às aulas de direito?
Bem, “queridão”, passados os quinze dias, irei com a primeira boa
companhia que siga para aí. Beijos à vovó, abraços aos da família. Com minha
bênção, beijo-te e abraço-te muito e muito. De tua mamãe extremosa,
Lucilia
(Transcrito, com adaptações, da
obra “Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)