quarta-feira, 20 de março de 2013

Luminosa e maternal proteção


Em muitas de suas cartas, Dª Lucilia enumera os atos de piedade por ela dirigidos ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora, em favor dos filhos que a Providência lhe dera. Praticava-os com inteira certeza do auxílio e proteção que obteria, a rogos daquela Mãe por excelência, Maria Santíssima. Sua profunda devoção incutia similar confiança a quantos com ela conviviam. Nesse sentido a atitude de um de seus sobrinhos — conhecido familiarmente por Rei, ou Reizinho, o mais íntimo dos amigos de seu filho Plinio — não deixava de ser expressiva.

A bênção e as cruzinhas na testa

Um ano e meio mais novo do que seu primo, Reizinho era auxiliado nos estudos por Plinio. Isto favorecia ainda mais um estreito relacionamento entre ambos. Nas vésperas das provas, era frequente passarem juntos a noite em claro, revendo a matéria. Chegado o momento de irem para o colégio, Plinio se dirigia ao quarto de Dª Lucilia para se despedir e lhe pedir a bênção, o que, aliás, nunca deixava de fazer antes de partir para os exames. Nessas ocasiões de mais importância, ela lhe fazia várias cruzes na testa, enquanto rezava interiormente algumas orações. Quando terminava, seu sobrinho também lhe pedia que o abençoasse de igual forma; ela acedia com boa vontade.
Assim, os dois partiam confiantes, convictos de que Nossa Senhora, no alto dos Céus, não faltaria ao pedido de tão boa mãe.

Quando Plinio, já um pouco mais velho, viajava para longe, repetia-se do mesmo modo a cena das cruzinhas. No hall de entrada da casa, na hora do último adeus, ela, que era um pouco mais baixa que seu filho, punha-se nas pontas dos pés e começava com toda a compenetração o singelo cerimonial. Plinio se inclinava um tanto, e comprazidamente recebia a bênção. Dª Lucilia estava bem ciente de que, segundo a doutrina católica, a bênção de uma mãe atrai efetivamente a proteção de Deus para um filho, e era o que ardentemente desejava. Daí talvez o fato de fazer vários sinais da cruz sobre a fronte dele, como forma insistente de implorar esse auxílio.

Uma Via-Sacra controvertida

No correr do ano de 1928 houve um fato na vida de Plinio que muito alegrou Dª Lucilia, pois, de algum modo, representava a realização, por especial dom do Sagrado Coração de Jesus, de seus mais entranhados anseios em relação a seu filho: foi o ingresso dele nas Congregações Marianas. Dentro em pouco, tornar-se-ia inconteste líder católico, e chegaria a ser eleito deputado pela Liga Eleitoral Católica.

Essa ascensão não se faria sem duros e renhidos combates, durante os quais Dª Lucilia, por sua presença e por seu apoio discreto — mas quão eficaz! — prestaria ao filho valioso auxílio.
A primeira batalha foi contra o respeito humano. A algumas pessoas pode parecer não apresentar tantas dificuldades essa luta, pois não exige argumentos nem estudo. Oh, ilusão! O instinto de sociabilidade e a tendência a imitar os semelhantes é tão forte no homem que, em muitos casos, ele prefere enfrentar em combate a própria morte a fugir, para não ser tachado de covarde pelos colegas e amigos.

Ora, na sociedade de então a prática da Religião era tida como fraqueza de espírito, própria a mulheres e crianças. Apresentar-se como católico praticante era considerado vergonhoso para um homem, razão pela qual bem poucos (principalmente nas classes elevadas) tinham coragem de fazê-lo.

A adesão de Plinio ao Movimento Católico deu-se nessa atmosfera. Em certo momento, decidiu ele tomar de público uma atitude através da qual manifestasse a irreversibilidade do rumo por ele encetado. Para isso escolheu a Missa das 10 horas de domingo em Santa Cecília, igreja naquele tempo frequentada pela alta sociedade. Boa parte do seleto público estava ali por mera conveniência social.

Apenas iniciado o Santo Sacrifício, Plinio — que já tinha cumprido o preceito dominical na Missa anterior — percorreu uma a uma as quatorze estações da Via-Sacra e, terminada esta, ajoelhou-se em lugar bem visível, tirou do bolso um tercinho azul que comprara expressamente para a ocasião e passou a rezá-lo. Obviamente, entre seus conhecidos os comentários não se fizeram esperar: “O Plinio virou carola!” Porém, ninguém teve coragem de lhe fazer direta ou indiretamente a mais leve insinuação.

Mas aqueles que tinham intimidade suficiente para isso, comentaram o fato com Dª Lucilia, procurando convencê-la a demover seu filho do caminho encetado. Afinal de contas, diziam eles, essa atitude significava voltar as costas ao futuro, pois não era entre beatos que ele conseguiria fazer carreira.

Estavam em jogo a fé e a perseverança de seu filho, e Dª Lucilia se mostrou irredutível, dentro de sua habitual serenidade. Por mais que insistissem, ela não saiu de sua posição. Que mal havia no que Plinio fizera? Estava muito bem, assim se deveria ser. E se algo devesse dizer a seu filho, seria unicamente para o elogiar.

Ante essa barreira de suave intransigência, a ofensiva da irreligião desistiu, ao menos ostensivamente, de seus nefastos intentos.

Conselho singular

Pouco tempo após a entrada de Plinio para o Movimento Católico, não tardaram os dirigentes das Congregações Marianas a discernir nele excelentes qualidades oratórias. Começaram a convidá-lo com certa frequência para fazer discursos e conferências, divulgando-se rapidamente por toda parte sua fama de bom orador.

Naturalmente, Plinio levava Dª Lucilia a algumas dessas solenidades, e ela deve ter experimentado as alegrias das mães quando vêem seus filhos falarem em público. Conquanto gostasse de ouvi-lo discursar, nunca o elogiava, porque tinha horror a que ele cedesse à tentação de vaidade ou de orgulho. E, por isso, não deixou de lhe dar repetidas vezes um singular conselho: — Filhão — dizia ela quando Plinio a tomava pelo braço ao retornarem para casa —, por pouco que fales, tuas palavras nunca serão suficientemente breves. Quando pensares que é hora de terminar, haverá já um bom número de pessoas na sala que estarão se perguntando quando é que vais acabar. Quanto menos falares, mais agradarás.

O filho, sempre amante dos conselhos da mãe, guardou-os para si, e daí por diante nunca mais se esqueceu daquela sábia recomendação ao fazer uso da palavra em público.

Continua no próximo post

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