Continuamos o relato da viagem da mãe de Dr. Plinio e sua família à Europa em 1912-1913, extraído, com adaptações, da portentosa obra “Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias.
Um parque de Wiesbaden, na época da viagem de Dª Lucilia |
As termas de Wiesbaden
Nas primeiras décadas deste século, a cura pelas águas era com certa freqüência recomendada, em razão do que as estações termais se estavam multiplicando por todo o Ocidente. Wiesbaden, uma das principais da Alemanha, tinha aproximadamente 100 mil habitantes. Quase à beira do Reno, situa-se em formosa região, de clima saudável e ameno.
Dª Lucilia pôde admirar inúmeros e suntuosos edifícios, lindas igrejas destinadas ao culto católico, o Palácio Ducal, o Teatro Real e o Palais Pauline, construído no exótico estilo mourisco do Alhambra de Granada.
Até 1866 Wiesbaden fora residência dos Duques de Nassau. Anexada nessa ocasião pelos prussianos e transformada em capital da Província, logo se tornou o local preferido de altos oficiais alemães reformados. Fato este que concorreu para o desenvolvimento da cidade, com a abertura de grandes avenidas e construção de nobres mansões, chegando ao ápice quando Guilherme II e sua corte a adotaram como residência imperial de verão. A aristocracia europeia e celebridades internacionais marcaram com sua presença a vida cultural da cidade até a Primeira Guerra Mundial.
A principal atividade do lugar era a exploração de 26 mananciais de água mineral, visitados anualmente por centenas de milhares de pessoas.
Aspecto do luxuoso interior da Kurhaus de Wiesbaden
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Muitas foram as recordações de Wiesbaden que Dª Lucilia, com seu atraente charme, haveria de narrar no futuro. Não deixou de ser pitoresco, por exemplo, o episódio que se passou com a família Ribeiro dos Santos, quando procurava um hotel. Deram logo com um bom estabelecimento, mas, estando prestes a entrar, Dª Gabriela notou uma placa com a figura negra de um bode. Espantada, estancou a marcha, dizendo ao genro:
— Mas, João Paulo, bode preto!... Neste não quero entrar.
Ao lado, vista geral da cidade de Wiesbaden;
abaixo, à
esquerda, o Hotel Nassau, onde Dª Lucilia se hospedou
com sua família; à
direita, jardim e fonte da Kurhaus
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Dª Lucilia e os seus — sobretudo as crianças — nunca se esqueceriam da ordem e do esplendor do local. Ali Plinio pôde observar extasiado a matriarca, Dª Gabriela, trajando vestido de cauda, entrar com passo solene no salão de festas intensamente iluminado. Dava-lhe a impressão de que ela penetrava na própria luz.
Pimbinchen!
Por uma das histórias contadas por Dª Lucilia, já na ancianidade, soube-se por que ela se referia a seu filho, em uma ou outra carta, pelo cognome de Pimbinchen.
Certo dia foram servidos pombinhos no restaurante do hotel. Plinio, tendo apreciado o prato, comentou alegremente com Dª Lucilia que achava os pombinhos muito gostosos. O garçom entendeu a palavra “pombinhos” de maneira imperfeita — pimbin — e acrescentou o sufixo chen, que em alemão é diminutivo. A partir desse dia, passaram a preparar de modo habitual pombinhos para as refeições e, já ao chegar à porta, o garçom estendia a bandeja em direção ao menino e, muito sorridente, anunciava:
— Pimbinchen!
À força de ouvi-lo, Plinio pensou que Pimbinchen fosse a palavra alemã para “pombinho”, e a empregou inúmeras vezes. Dª Lucilia achava graça e não o corrigia. Daí em diante, até avançada idade, quando queria recordar aqueles tempos, ela tratava seu filho de Pimbinchen, ou de Pigeon, que significa “pombo” em francês.
No entanto, Dª Lucilia e sua família não foram àquela cidade apenas para se beneficiarem do elevado ambiente do hotel, nem das saborosas iguarias oferecidas em seu restaurante, mas principalmente das termas situadas próximo dali. A alguns passos achava-se a entrada de uma das duas longas galerias que conduziam à Kurhaus. Atrás desse magnífico edifício podia-se alcançar alguma das fontes de onde jorravam os jatos de água sulfurosa e quente.
De acordo com o bom gosto dos antigos tempos, que visava não só a higiene e a eficiência, mas também a beleza das linhas e das maneiras, no atendimento ao público aliava-se o prático ao pulcro. Assim, eram utilizados bons copos de vidro grosso, cuidadosamente lavados e suspensos em ganchos. Quando Dª Lucilia se apresentava com um bilhete comprado na entrada, um dos guardas responsáveis pelo serviço, por meio de uma longa pinça de madeira, imergia um copo na água borbulhante que, em seguida, gentilmente lhe oferecia.
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