Eu creio que a coisa
mais pungente da vida é quando a gente conheceu algum grande olhar ou alguma
grande alma e a gente, de repente, se dá conta que aquele olhar se fechou para
sempre e a alma foi-se para Deus. E que aquilo que a gente viu não verá mais, não
aprofundará mais, não conhecerá mais como deveria ter conhecido e que daí por
diante é só na eternidade.
Mil vezes eu peregrinei
dentro dos olhos de mamãe, mas quantas e quantas vezes; e a partir de quantas
portas deste olhar! O olhar dela quando me olhava, o olhar quando eu via que
ela estava olhando para dentro do meu olhar, o olhar dela quando rezava, o
olhar dela visto de lado, o olhar dela visto por detrás, em que era por
imponderáveis que se percebia seu olhar. E quando ela faleceu eu me pus esta
pergunta:
"Agora, para esta vida terminou, acabou,
nunca mais eu passearei dentro deste olhar e nunca mais desvendarei esta alma".
Agora, pergunta-se:
"você aproveitou inteiramente o
tesouro? Você olhou tudo que tinha que ver, e você chegou até o conhecimento
último? Você será capaz de fazer a viagem retrospectiva e completa através dos
véus sucessivos?"
E eu me fiz a pergunta
distendido e calma no meio do pranto da morte. E com toda a calma respondi a
mim o seguinte: "Sim, e
inteiramente. Talvez ela tenha morrido a tempo para me comunicar os seus
últimos fogos de olhar em que a luz da vida bruxuleava, mas que ainda tinha
belezas novas para me comunicar. Mas também acabou, eu tenho tudo, levo tudo,
oxalá eu assimile tudo!"
Assim é que a gente
olha sucessivamente para os olhares, as coisas que esta vida se nos apresenta.
Isso é viver. E não fazer isso é não viver. E quem nunca pensou, nem viu e não teve coisas destas em vida, este eu tenho dificuldade de explicar para mim mesmo como ele estará
pronto para a visão beatífica. Porque a visão beatífica é isso: olhar Deus face
a face e peregrinar dentro dEle e sempre, sempre, e imutável, e novo para nós.
Afável, majestoso, acolhedor, e nós dentro dEle superpondo os aspectos
sucessivos, para formar uma cognição que nunca cessará. Porque jamais O
conheceremos totalmente. Isso será a nossa alegria no Céu.
Plinio Corrêa de Oliveira-
extraído de conferência 23/12/76
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