quarta-feira, 12 de abril de 2017

Mentalidade anti-igualitária IV

Continuação do post anterior
Relacionamento com a família imperial…
Voltando ao modo de Dona Lucilia manifestar o respeito, menciono seu trato com aqueles que lhes eram superiores. Por exemplo, seu relacionamento com a família imperial do Brasil.
Mamãe nos contava como a Princesa Isabel conhecera sua mãe e ela, em Paris, e como a nobre senhora convidou-as para um lanche em sua residência, em Boulogne-sur-Seine. Narrava todos os pormenores da visita para se compreender a correspondência que a Princesa manteve com minha avó e com a família, até morrer.
Vem-me à memória também este fato: Eu era menino, e Dom Pedro Henrique — uns meses mais moço que eu — veio para o Brasil, pela primeira vez depois do exílio.
Os costumes do tempo eram completamente diferentes dos de hoje. Dom Pedro Henrique ia embarcar de volta para a Europa com a mãe dele, uma irmã e um irmão que morreu, e nós precisávamos ir até a estação ferroviária para nos despedir, antes de partirem de trem para o porto de Santos.
Como minha irmã e eu tínhamos tido muito mais contatos com eles do que as outras crianças da família, devíamos oferecer-lhes uma lembrança qualquer.
Recordo-me da preocupação de mamãe em encontrar uma lembrança original, que não fosse, por exemplo, um objeto que se acha em Paris muito melhor. Então o que encontrar aqui para se oferecer como presente, e que não houvesse algo semelhante na França?
Minha mãe excogitou, então, de dar para cada uma das três crianças caixas de madeira brasileira preciosa e perfumada, ornadas com certos tipos de cipós muito decorativos que, cortados ou envernizados ou encerados, ficam muito bonitos. Ela indicou como deveriam ser as caixas e os ornatos, foi ao Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e encomendou os objetos, explicando que não podiam ser iguais: a caixa para a menina tinha de ser mais delicada; para os meninos. mais forte, etc. Com todo esmero, porque eles eram quem eram.
Depois, mandou comprar numa bonbonnière francesa que havia em São Paulo o que havia de melhor de bombons para colocar dentro das caixas, e ela mesma orientou a criada corno embrulhar os presentes em papel de seda e amarrar com fio dourado. Em seguida, explicou à minha irmã e a mim como nos aproximar da janela do trem onde eles estavam, e com que palavras entregar-lhes os presentes. Era o respeito pelos superiores!

Esse respeito ela manifestava com gosto, pois tinha alegria em respeitar. Essa cadeia de respeito ia desde um mendigo até uma princesa imperial.
Continua no próximo post

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