domingo, 26 de fevereiro de 2017

Incólume tabernáculo interior - final

Conclusão dos posts anteriores
Necessidade do verdadeiro afeto
Eu tive todas as doenças que em criança se possa ter, exceto varíola: mil gripes, caxumba, catapora, rubéola… Eu era um menino forte, mas apanhava essas enfermidades. Lembro-me de que, quando tive caxumba, minha avó, que era senhora do interior, quis curar a doença com um processo antigo, o qual consistia em pegar uma colher de pau, introduzi-la em não sei que óleo ou sebo quente, e aplicar na caxumba.
Mamãe, que já conhecia meu modo de ser, sentou-se na minha cama — correndo o risco de contrair a doença que ela nunca tivera — e me disse:
— Filhão, sua avó está querendo que você faça um tratamento antigo para essa sua caxumba, que está demorando tanto para curar. Se der certo, sara mais depressa e você levanta logo da cama. Você quer fazer?
E eu interroguei:
— Mas o que é? Quando ela me falou da tal colher de pau com sebo, eu disse:
— Isso nunca! Não quero essa coisa comigo. Diga para vovó que não, de nenhum modo.
Deu-me a ideia de sujeira. Aplicar em cima da caxumba — que já se me afigurava como uma coisa suja — uma colher de pau, metida num sebo qualquer, é grotesco; fica aquela sujeira em cima. Isso não!
Mamãe não insistiu e a coisa passou. Ela tinha esperança no tratamento, mas como eu não queria, e não havia um mal nisso, respeitou minha vontade.
Quem foi objeto desse afeto materno acredita que na vida é possível o afeto. Pelo contrário, quem não o teve, fica como navio sem leme, porque julga que na vida esse afeto não existe, e fica desgarrado, porque a existência perde um dos seus sentidos.
Considerando o caos no qual vamos afundando, é preciso ter uma confiança em quem, do Céu, é mãe para nós. Antes de tudo, Nossa Senhora, mas depois alguém mais próximo, em quem possamos confiar ao nos metermos nessa barafunda, onde tudo é um entremorder-se de feras dentro de uma confusão horrorosa, em que ninguém pode confiar em ninguém. Essa disposição de alma confiante é indispensável para nós, ao longo de toda a vida. 

Plinio Corrêa de Oliveira –  Extraído de conferência de 21/4/1990

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