segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Lições sobre os Novíssimos do homem

Continuação dos posts anteriores.
Um homem que caluniava Dr. Antônio Ribeiro dos Santos...
Ela falava com alguma frequência da Morte, sobretudo fazendo sentir a solidão da Morte. Quer dizer, quando a pessoa estava para falecer, apesar de ter o quarto cheio de parentes, amigos, etc., há alguma coisa que a separa de todo o mundo. Ela está morrendo aos poucos e se aproximando do instante em que vai estar sozinha em face de Deus, será julgada e terá de prestar contas de sua vida; e naquela hora será precipitada no Inferno, ou mandada para o Purgatório, ou irá diretamente para o Paraíso. E mamãe exprimia isso muito bem.
Dona Lucilia contava fatos bonitos a respeito da morte. Por exemplo, o caso de um homem que fora grande inimigo do pai dela. Era um chefe político daquela zona de Pirassununga, onde ela nascera, um homem de boa família de São Paulo, mas que tinha em relação ao pai dela um ódio gratuito, sem razão.
 Várias vezes, esse homem pregou calúnias contra o meu avô, o qual teve que se defender e sempre conseguiu provar que ele estava sendo caluniado, e que o caluniador era aquele indivíduo, etc.
...é preso e pede a Dr. Antônio que o defenda
Meu avô era muito bom advogado e, estando em Pirassununga, recebeu certo dia um telegrama desse inimigo dele, que morava em São Paulo, dizendo o seguinte:
“Eu estou preso porque fui acusado de tal crime. E devo ser julgado no dia tanto perante o tribunal do júri de tal cidade — uma localidade próxima a Pirassununga. Como eu não confio em ninguém tanto quanto no senhor, peço que aceite defender-me.”
Era uma sem-vergonhice desse homem pedir, sem mais nem menos, que tivesse como advogado aquele que ele caluniou. Ele deveria começar por dizer: “Eu reconheço que tais coisas assim foram calúnias, peço perdão e misericórdia. A misericórdia consiste em consentir em me defender.” Aí estaria bem. Mas, antes desse pedido de perdão e de misericórdia, não se concebia.
Mas meu avô era um homem — segundo ela contava, porque não o conheci — muito paciente e misericordioso, e mandou telegrafar-lhe dizendo o seguinte: “Esperá-lo-ei na estação quando o senhor descer do trem, e aceito o encargo que me confia.”
Em cidadezinha do interior, máxime naquele tempo, esses fatos tinham uma importância enorme, todo mundo queria ver a notabilidade chegar, com os soldados de um lado e de outro, presa com algemas e ir para a cadeia. E era uma coisa horrível o que o povo fazia, mas se a cadeia não era longe da estação, o prisioneiro ia a pé até a prisão e com todo o povo acompanhando. E naturalmente os inimigos dele dizendo coisas horríveis, contra as quais ele não podia se defender porque estava manietado.
Quando meu avô chegou à estação para receber o homem, percebeu que o local estava cheio de inimigos do cliente dele. Então meu avô disse uma coisa mais ou menos desse gênero, falando bem alto para todas as pessoas ouvirem:
“Todos sabem que aqui chegará preso Doutor Fulano de Tal, mas nem todos têm conhecimento de que ele vem como meu cliente. E sendo meu cliente está sob a minha proteção; por causa disso qualquer ultraje feito a ele é uma ofensa contra mim. A honra dele está sob o meu amparo, e eu quero saber quem vai por esta forma me agredir.”
 O homem desceu do trem, meu avô mandou embora os soldados e passou o braço por debaixo do braço dele. Cumprimentou-o amavelmente, perguntou se tinha feito boa viagem; tudo isso na presença de todos que lá se encontravam, que ficaram pasmos, porque era conhecida a inimizade entre o réu e o advogado.

Depois disse: “Vamos então!” E começou a atravessar a multidão, que abriu fileiras, e ele foi até a cadeia, onde o homem ficou preso.
Continua.

Um comentário:

  1. Quanto mais leio, mais ainda desejo ler os fatinhos da vida de D. Lucília. Obrigada por esse apostolado. Salve Maria!

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