domingo, 2 de outubro de 2016

Contemplação do todo de Nosso Senhor IV

Conclusão dos posts anteriores
Visão profunda, límpida, serena, objetiva e bondosa da realidade
Nessa época as senhoras mudaram muito, tomando um ar mais moderno. O modo de elas conversarem, de dizerem alguma coisa de engraçado entre si, mudou muito, e mamãe ficou à margem. Não sei quanto tempo ela levou para perceber isso inteiramente.
A mãe dela era uma senhora que eu nunca vi fazer um gracejo com ninguém. E uma vez ou outra, quando ela procurava brincar com minha irmã ou comigo para nos distrair, quando éramos muito menininhos, ela fazia brincadeiras sem graça, mas por causa dessa seriedade dela.
E o fato de uma senhora habituada a abrir-se inteiramente, sem a menor reserva, para o americanismo que entrava, para Dona Lucilia era uma coisa inteiramente alheia aos padrões nos quais ela havia sido educada.
Entre as senhoras daquela época entrou o costume de darem risada, de brincarem uma com a outra, de falarem da vida das outras o tempo inteiro, a ponto dessa atitude tornar-se moda. Dona Lucilia não fazia nada disso. E quando diante dela se apresentava um assunto, ela entrava no tema com umas considerações longas, tão ajuizadas, criteriosas e diferentes do que as pessoas queriam ouvir, que ela ficava sem graça, permanecia só.
Essa postura séria e reflexiva diante da vida conferia a Dona Lucilia uma visão profunda, límpida, serena, objetiva e bondosa da realidade, que eu notava no olhar dela, mas notava também, naturalmente em grau infinitamente maior, no Sagrado Coração de Jesus e na Igreja Católica. E pensava: “Assim é a Igreja Católica, assim se é santo, assim se vê a realidade como deve ser vista, este é o caminho!”
Eu hauria dela essa mentalidade, muito mais pelo convívio do que por ensinamentos explícitos. Sua ação benfazeja auxiliou enormemente meu livre-arbítrio a se inclinar para o bem. E naquelas coisas a que ela se conservou fiel, eu, com a graça de Nossa Senhora, não só me mantive fiel, mas remontei até a Idade Média. Quer dizer, é o caminho da fidelidade subindo à fonte.
Tenho consciência de que sirvo de eco a uma tradição que me é muito anterior, mas um eco consentido pela minha alma, pelo meu feitio de espírito, pelo que recebi e quis guardar. 

Plinio Corrêa de Oliveira – Extraído de conferência de 17/3/1990

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