sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Contemplação do todo de Nosso Senhor II

Continuação do post anterior
Inteligência comum, mas vivificada pela sapiencialidade
Eu notava isso em todas as circunstâncias da vida: nas consequências que ela tirava dos fatos, nas aplicações, na severidade dela como mãe, numa série de coisas assim, tudo levado por ela até o fim. Este era o ponto de partida do relacionamento de alma entre ela e eu, que só cessou nesta Terra com a sua morte.
Alguém poderia perguntar sobre o papel da inteligência dentro disso, e se não se tratava de uma altíssima qualidade intelectual. Suponho ser algo mais ligado à virtude da sabedoria, a qual não é privativa dos inteligentes, mas é uma inteligência dada pela graça, aos inteligentes e aos não inteligentes, desde que a Providência queira beneficiá-los.
Mamãe tinha uma inteligência comum, vivificada por essa posição sapiencial de muita seriedade diante de todas as coisas.

A visão da totalidade que ela possuía do espírito da Igreja Católica e de Nosso Senhor Jesus Cristo, tanto quanto eu podia perceber no contato com ela, apresentava-se no culto ao Sagrado Coração de Jesus.
Imagens do Sagrado Coração de Jesus: transbordantes de afeto, mas nunca sorrindo
Via-se que ela reconhecia, admirava, adorava no Sagrado Coração de Jesus exatamente o que se encontra nessa devoção, tal como era apresentada no século XIX, durante o qual Dona Lucilia formou seu espírito.
Naquela época, o Sagrado Coração de Jesus era apresentado sempre como profundamente bondoso, misericordioso, disposto a perdoar, mas profundamente sério. Então, algumas atitudes d’Ele perante as almas eram simbolizadas pelas imagens transbordantes de afeto, mas nunca sorrindo, revelando sempre um fundo de tristeza, de quem media até a profundidade a maldade dos homens, e sofria por causa disso inteiramente.
Essa postura interior era representada fisicamente pelo coração cercado de uma coroa de espinhos e com uma laceração decorrente da lança de Longinus, que simbolizavam essa tristeza afetuosa e paciente do Sagrado Coração de Jesus, de uma profundidade não mensurável, infinita, mas ao mesmo tempo sem irritação, sem vindita. Uma bondade a perder de vista, mas que, diante das ofensas feitas, sabia serem ofensas, tomava-as em todo o seu valor e sofria por elas em toda a medida que era próprio a elas fazê-Lo padecer. Portanto, tudo quanto Ele sofreu na Paixão por causa dos nossos pecados, estava simbolizado nessas imagens muito adequadamente.
Isso supõe uma avaliação profundamente séria do que se passa na alma de cada homem, da gravidade moral de todo o pecado, e uma disposição prévia a ver no homem um pecador a quem se perdoa, muito mais do que um filho dileto que dá alegria.
De maneira que as imagens do Sagrado Coração de Jesus da boa escola não O apresentam gaudioso, embora o Coração d’Ele fosse cheio de gáudios; por exemplo, quando Ele via Nossa Senhora, ou cogitava sobre Ela, o gáudio d’Ele não tinha limites.
Continua

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