Movidas pelo
espírito revolucionário, muitas pessoas se tratam de modo igualitário,
favorecendo assim a perda da dignidade e da autoridade. Dona Lucilia velava
pela hierarquia, possuía muito senhorio e grande dignidade materna; honrava
todos aqueles que se aproximavam dela, e sabia tratar a todos incomparavelmente
bem.
Dona Lucilia e seu bisneto |
As crianças tinham intenso desejo de ouvir
as histórias
A parentela toda ia jantar em casa, e os
mais velhos comiam na sala de jantar principal. Havia também uma sala de jantar
só para as crianças, e ali nos servíamos. Nossa sala de jantar era bagunça,
fala-fala. É preciso dizer que eu era grande bagunceiro nessa sala; falava
muito, pois sou muito expansivo. Mamãe, evidentemente, ceava com os mais
velhos.
Mas
nós jantávamos com uma pressa louca para ouvir a história que ela ia contar
depois. O jantar dela demorava muito mais do que o nosso, porque os mais velhos
comiam
devagar, ela mesma o fazia lentamente;
então, nós começávamos a bater na porta para entrar na sala de jantar e levá-la
embora, antes de seu jantar terminar.
Mamãe
cortou esse procedimento muito amavelmente, dizendo que deveríamos respeitar os
mais velhos, não entrar na sala de jantar deles, e não podíamos apressar o
jantar dela. Era uma pessoa doente, estava se tratando, precisava jantar
devagar, e que nós esperássemos, pois havia tempo para tudo.
Ficávamos na porta do corredor,
esperando. Mas, de vez em quando, mandávamos uma menina — porque com a menina
se é menos severo do que com o menino — abrir a porta. E uma sobrinha dela
fazia isso, porque se era mais amável com os sobrinhos; entrava, olhava... E
mamãe, com calma, fingia não perceber e, após terminar de jantar, conversava
mais um pouquinho com os mais velhos para nos domesticar.
Quando
se levantava, abríamos a porta e caminhávamos com ela para o escritório de meu pai. Ali a cercávamos, todos procuravam pegar em sua mão. Ela ficava
recostada no sofá e começava a contar histórias. E nós espichávamos a narração,
querendo saber os pormenores. Eram nomes franceses e ingleses e, quando os
pronunciávamos de modo errado, ela parava e nos obrigava a pronunciar direito.
Com
uma paciência sem fim, ela ensinava desse modo a adquirirmos calma, e nos
entretinha muito agradavelmente; era o melhor entretenimento da semana. E, ao
mesmo tempo, ela nos ia ensinando a boa pronúncia francesa e inglesa, e uma
porção de outras coisas.
Continua no próximo post.
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