domingo, 8 de novembro de 2015

União de almas

Plinio Correa de Oliveira relembra três aspectos de seu relacionamento com sua mãe, Dona Lucilia — a confecção de trajes, a preparação para a Primeira Comunhão e o convívio epistolar —, nos quais transparece, uma vez mais, a profunda união de almas entre mãe e filho.
Quando eu era pequeno, minha mãe fazia, ela mesma, os planos dos trajes que minha irmã e eu deveríamos vestir.
Naquele tempo se usavam muito pouco as roupas fabricadas em série, como hoje. Eram costureiras individuais que confeccionavam os trajes das crianças, de acordo com as indicações do pai ou da mãe delas.
Metódica e meticulosa na elaboração dos trajes para seus filhos
Minha mãe era muito artística e imaginativa. E é natural que, em matéria de indumentária, tivesse para com minha irmã, que era menina, um cuidado todo especial. Mas também se interessava pelos meus trajes, pois queria que seus dois filhos se apresentassem bem. Ela imaginava as vestes, dava as indicações, e era muito metódica e meticulosa.
Durante toda a minha vida, tive sempre uma grande antipatia com trajes e alfaiatarias, não com os pobres alfaiates. Isso de provar uma roupa e outra — acho bom que os outros o façam — não tenho interesse, porque penso em outros assuntos.
Minha mãe mandava fazer os trajes e eu quase não prestava atenção neles. Era uma coisa que não acabava mais a hora de experimentá-los. Vinha a costureira em casa, com cartões que para mim pareciam enormes; minha mãe sentava-se numa cadeira e então eu tinha que ir ao quarto, vestir o traje e me apresentar.
Ela dizia-me muito afetuosamente: “Ande.” Depois falava à costureira: “Olhe, aqui tem pano demais, ali falta um pouco...” A senhora, então, tomava um giz, desenhava onde deveria ser tirado, onde precisaria ser acrescentado. Isso levava um tempo imenso, e eu queria sentar-me. Toda a vida detestei estar de pé; sempre me pareceu que a posição natural do homem era estar sentado. Eu não dizia nada porque a presença de minha mãe dulcificava a coisa, mas achava aquilo detestável.
Pelo costume da época, os meninos e as meninas tinham que pôr luvas. Punham-me as luvas, mas eu via que elas tornavam os dedos grossos e impediam-me de movê-los tanto quanto gostaria. Então andava com os dedos abertos.
Dona Lucilia dizia com muita bondade, mas de maneira taxativa: “Filhão, é preciso fechar os dedos.” Eu estava pensando em outra coisa, e perguntava:
— O que é?
— Fechar os dedos.
Fechava, mas logo no primeiro descuido abria-os novamente.
A Fräulein Mathilde1 dizia:
 — Plinio! Os dedos.

— Ah! Os dedos...
Continua no próximo post

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