Com voz aveludada e
discreta, Dona Lucilia sabia prevenir seu filho a respeito de coisas que,
embora aparentassem ser sem importância, no fundo mereciam uma atenção
especial.
Mamãe
media bem o valor de cada previsão que faria. Ela falava com muita doçura, mas
ao mesmo tempo com muita autoridade, sabendo possuir o direito de prever as
coisas para o filho. Como eram estas previsões?
Comunicando suas previsões…
Naturalmente,
elas se davam nas ocasiões mais diversas, estando ela em algum local de casa,
em pé, sentada, e ao sabor de circunstâncias imprevistas. Mas em geral ela se
punha em algum sofá, alguma cadeira ou poltrona, onde pudesse estar sentada com
toda a tranquilidade, de maneira que o corpo não prejudicasse a atenção dada
por ela ao que estava dizendo.
DonaLucilia tomava uma atitude de especial afeto para com a pessoa a quem ia
beneficiar com o presente de uma previsão, e começava a dizer: “Meu filho…” em
tom mais baixo e depois ia subindo até chegar à previsão: “Sua mãe notou tal
coisa, e daí deduz que há para você — ou para as Congregações Marianas, ou para
a Causa católica — um perigo, um equívoco qualquer que pode fazer com que você
se deixe enganar. Portanto, eu vou dizer-lhe: Tal coisa é assim e não de outro
jeito, como você parece pensar. Preste atenção nisso.”
Quando
eu era mais moço e a previsão dela contrariava algum gosto meu, não me zangava
propriamente com ela, porque eu a queria tão bem que não era capaz de me zangar
com ela. Mas eu ficava surpreso, desagradado e oferecia objeções:
— Mas
mãezinha, a senhora não vê que tal coisa é assim e não concorda com o que a
senhora está prevendo? Ela dizia com muita bondade e doçura:
—
Filhão, olha lá, hein! Isso você acha assim porque não viu tais outras coisas.
Se eu
insistia, ela acrescentava:
— Bem,
eu já lhe disse tudo que podia para convencê-lo; não o convenci, vamos ver o
que vai acontecer. Mas se suceder alguma coisa, não afirme: “Mamãe não me
preveniu; diga que você foi recalcitrante e não quis ouvir a opinião de sua
mãe.”
O passar dos tempos dava razão às
previsões de Dona Lucilia
Embora
não estivéssemos de acordo, eu saía com a alma cheia e ficava prestando atenção
nos acontecimentos, para verificar se se realizava o que ela havia predito, ou
não. Em geral, levava um pouquinho de tempo para se cumprir, porque é próprio
da previsão anunciar as coisas muito antes de acontecerem; essa é a previsão de
categoria. Então ela previa com muita antecedência, mas acabava acontecendo.
Dona
Lucilia não tinha a atitude que muitos previsores possuem: “Você está vendo,
hein! Na próxima vez preste mais atenção no que eu disse, porque você deve ver
que não erro, mas é você que erra; portanto, saiba torcer o pescoço de suas
próprias ideias e aceitar as minhas.” É uma coisa que ela não diria.
Quando
muito, ela apenas falava de passagem: “É! Acabou acontecendo que fulano deu um
passo em falso.” Mas ela não dizia que o indivíduo fez a coisa que ela tinha
previsto. Depois ela mudava de assunto com a maior suavidade e delicadeza
possíveis. Assim eram as previsões que mamãe fazia.
Continua
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