segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Como eram as previsões de Dona Lucilia?

Com voz aveludada e discreta, Dona Lucilia sabia prevenir seu filho a respeito de coisas que, embora aparentassem ser sem importância, no fundo mereciam uma atenção especial.
Mamãe media bem o valor de cada previsão que faria. Ela falava com muita doçura, mas ao mesmo tempo com muita autoridade, sabendo possuir o direito de prever as coisas para o filho. Como eram estas previsões?
Comunicando suas previsões…
Naturalmente, elas se davam nas ocasiões mais diversas, estando ela em algum local de casa, em pé, sentada, e ao sabor de circunstâncias imprevistas. Mas em geral ela se punha em algum sofá, alguma cadeira ou poltrona, onde pudesse estar sentada com toda a tranquilidade, de maneira que o corpo não prejudicasse a atenção dada por ela ao que estava dizendo.
DonaLucilia tomava uma atitude de especial afeto para com a pessoa a quem ia beneficiar com o presente de uma previsão, e começava a dizer: “Meu filho…” em tom mais baixo e depois ia subindo até chegar à previsão: “Sua mãe notou tal coisa, e daí deduz que há para você — ou para as Congregações Marianas, ou para a Causa católica — um perigo, um equívoco qualquer que pode fazer com que você se deixe enganar. Portanto, eu vou dizer-lhe: Tal coisa é assim e não de outro jeito, como você parece pensar. Preste atenção nisso.”
Quando eu era mais moço e a previsão dela contrariava algum gosto meu, não me zangava propriamente com ela, porque eu a queria tão bem que não era capaz de me zangar com ela. Mas eu ficava surpreso, desagradado e oferecia objeções:
— Mas mãezinha, a senhora não vê que tal coisa é assim e não concorda com o que a senhora está prevendo? Ela dizia com muita bondade e doçura:

— Filhão, olha lá, hein! Isso você acha assim porque não viu tais outras coisas.
Se eu insistia, ela acrescentava:
— Bem, eu já lhe disse tudo que podia para convencê-lo; não o convenci, vamos ver o que vai acontecer. Mas se suceder alguma coisa, não afirme: “Mamãe não me preveniu; diga que você foi recalcitrante e não quis ouvir a opinião de sua mãe.”
O passar dos tempos dava razão às previsões de Dona Lucilia
Embora não estivéssemos de acordo, eu saía com a alma cheia e ficava prestando atenção nos acontecimentos, para verificar se se realizava o que ela havia predito, ou não. Em geral, levava um pouquinho de tempo para se cumprir, porque é próprio da previsão anunciar as coisas muito antes de acontecerem; essa é a previsão de categoria. Então ela previa com muita antecedência, mas acabava acontecendo.
Dona Lucilia não tinha a atitude que muitos previsores possuem: “Você está vendo, hein! Na próxima vez preste mais atenção no que eu disse, porque você deve ver que não erro, mas é você que erra; portanto, saiba torcer o pescoço de suas próprias ideias e aceitar as minhas.” É uma coisa que ela não diria.

Quando muito, ela apenas falava de passagem: “É! Acabou acontecendo que fulano deu um passo em falso.” Mas ela não dizia que o indivíduo fez a coisa que ela tinha previsto. Depois ela mudava de assunto com a maior suavidade e delicadeza possíveis. Assim eram as previsões que mamãe fazia.
Continua

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