sábado, 7 de fevereiro de 2015

Sumamente tranquila, sumamente vigilante

Há quem confunda bondade com ingenuidade. Este é um equívoco não cometido por Dona Lucilia. Extremamente bondosa e afetuosa, ela formou seus filhos na mais intransigente escola da vigilância.
Qual foi a impressão causada  por  Dona  Lucilia no interior de seu filho Plinio Correa de Oliveira? Vejamos o que ele disse.
O amor materno
Recordando os mais antigos fatos da infância, momentos onde o filho começa a deter-se atenciosamente em sua mãe e tomar consciência de que ela possui uma relação especial com ele, lembro-me de me sentir envolvido pelo trato materno. Era uma  impressão  forte,  doce,  estável e cheia de luz. Dona Lucilia era sumamente tranquila, sem, entretanto deixar de ser íntegra e intransigente.
Embora sofresse muito durante a vida, mamãe possuía uma paz decorrente da convicção de que estava vivendo e sofrendo como devia, e que  o caminho trilhado por ela era o desejado por Deus. Este estado de alma proporcionava a ela uma enorme tranquilidade de consciência. Isso explica o fato de ela não se agitar  com coisa alguma.
Por  outro  lado,  Dona  Lucilia não tolerava o menor mal. Em qualquer circunstância ela exigia  que  as  coisas  fossem  inteiramente bem feitas. Nunca considerando o mal pelo seu lado mais divertido ou engraçado, ela não tolerava de nenhuma forma as coisas ruins. Isto dava a mamãe um bonito aspecto de alma pelo qual nunca a vi mentir, ou procurar fazer um sofisma, enganando alguém. Dizia a todos a verdade como era, cumprindo seu dever até onde necessário.  Isso  se  dava,  sobretudo,  em  relação aos filhos.
Nessa eu posso confiar!
Eu nasci muito fraco, e por isso,  quando  pequeno,  Dona  Lucilia cuidou de minha saúde o quanto pôde. 
Devido a minha frágil saúde, eu  tinha muita dificuldade em dormir à  noite. Então, acordava e via o quarto todo escuro. Dava-me uma  sensação de isolamento, de solidão, não tendo a quem dirigir-me.
Por esta razão, mamãe mandava  colocar  minha  cama  ao  lado da sua. Ao acordar, ficava  um pouco intimidado em despertá-la,  mas,  afinal,  chegava  um momento em que não era  mais possível ficar sozinho, e,  então, punha a ponta do dedo  em seu braço.
Como toda criança, eu não  pronunciava  bem  as  palavras.    E  tendo  apenas  dois  anos  de  idade,  queria  dizer  mãezinha,  mas dizia manguinha.
Às vezes, quando acordada,  ela logo percebia tratar-se de  mim,  e  começava  a  entreterme, até notar que estava sossegado. Então me deitava novamente na cama e ambos dormíamos. 
Porém,  em  algumas  ocasiões  —  pelo fato de estar indisposta ou simplesmente  por  ter  um  sono  muito  profundo — Dona Lucilia não acordava. E possuindo um temperamento categórico desde pequeno, eu passava para a cama dela — era um verdadeiro  “alpinismo”  —  e  tocava-a  para que despertasse.
Para ter bom êxito em minha “escalada”, eu tinha de me pôr de pé e  tentar galgar uma grade alta que havia em minha cama para evitar qualquer acidente...
Passando  para  a  sua  cama,  começava a chamá-la, porém não era  atendido.  Então  me  aproximava  e  abria os olhos dela, pois, assim, naturalmente acordaria.
Nunca aconteceu algo senão isto:  ela acordar, e imediatamente sorrir,  dizendo:
— Meu filhinho. É você?

Imediatamente ela se sentava na  cama, fazia com que eu me sentasse no travesseiro dela, e iniciava o  conto de uma história. Eu me sentia  penetrando  na  história  através dos olhos dela. Ela me queria muito  bem, e eu tinha noção — talvez confusa pela pouca idade, porém real  — desse afeto do qual era objeto. E  por ser cauto desde pequeno, pensava comigo mesmo: “Nessa eu posso confiar, porque ela me quer  bem.”
Continua no próximo post

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