Dr Plinio descreve as
composições e harmonias na alma de Dona Lucilia que se manifestaram ao longo do
sua vida, que podem ser constatadas através das fisionomias dela registradas em muitas fotografias.
Por exemplo, diversas
vezes eu a vi perplexa, mantendo o
semblante imóvel, sem franzir a testa,
como se ela se ausentasse da
própria face. Esta permanecia impassível, e o olhar posto num ponto indefinido
no ar, enquanto sua alma considerava
suas preocupações. Em certos momentos ela balanceava a mão, de maneira discreta.
Percebia-se, então, como
no espírito de mamãe estavam presentes os
princípios, a gravidade, a imobilidade e a perplexidade, perguntando-se ela, a cada
instante, como agir e como conduzir de
modo acertado o curso das coisas. Conservando sempre o equilíbrio entre a calma
e a apreensão: “Pode ser que algo não corra como espero. Não desejo o
resultado desfavorável de nenhum modo, exceto se for inevitável. Vejamos a
situação com serenidade, sem aflições desnecessárias. Se não der certo, Deus
é Pai, e Nossa Senhora é minha Mãe; permitirão o melhor para mim.”
A meu ver, essa calma
dentro da apreensão constitui um belo estado de espírito que eu pude observar em
Dona Lucilia, assim como outros que se compunham na alma dela, à maneira de
ogivas.
Dificuldade do homem moderno em obedecer
Nesse sentido, chama
particularmente a atenção em certas
fisionomias de mamãe a
conjunção entre amenidade, a afabilidade e a intransigência nos princípios que a norteiam. E essa harmonia nos causa especial comprazimento. Por quê?
Talvez a maior
dificuldade existente no homem concebido no pecado original venha a ser que, em
determinado momento, pronuncia-se nele um pendor oposto ao dever. E essa
inclinação em geral é para o agradável, pois ninguém se sente atraído para o
dissabor. Assim, quando o pendor se anuncia, apresenta-se com o aspecto de uma
atração deleitosa, não raro enfática, acompanhada de uma espécie de cegueira
por onde a pessoa não discerne claramente o mal encerrado naquilo que a seduz.
Ora, posto nesse
estado de atração, não há nada que o homem mais deteste do que ouvir a
repreensão, baseada na Lei de Deus. Ele não quer ouvir falar em virtude, em
obediência aos Mandamentos. Não quer, e não os pratica, pois a virtude só é
verdadeiramente virtude quando a pessoa age por persuasão, convicta do que não
deve fazer. De tal maneira que esteja vincado no seu espírito essa resolução: “Ainda que eu não veja porquê, sendo uma disposição da autoridade
competente, não posso
transgredir a Lei de Deus; devo obedecê-la. Ele tem o direito
de mandar em mim, e agirei de modo acertado se tiver gosto e alegria em
acatar suas disposições, ainda que não as
entenda.”
Eis um elemento de virtude
indispensável, sem o qual não há virtude autêntica. E é o que vai desaparecendo
do espírito do homem moderno.
Plinio Correa de
Oliveira – Extraído de conferência em 23/3/1982
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