segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Equilíbrio entre calma e apreensão

Dr Plinio descreve as composições e harmonias na alma de Dona Lucilia que se manifestaram ao longo do sua vida, que podem ser constatadas através das fisionomias dela registradas em muitas fotografias.
Por exemplo, diversas vezes eu a vi perplexa,  mantendo o semblante imóvel, sem franzir a testa,  como se ela se ausentasse  da própria face. Esta permanecia impassível, e o olhar posto num ponto indefinido no ar, enquanto sua  alma  considerava  suas preocupações. Em certos momentos ela balanceava  a mão, de maneira discreta.
Percebia-se, então, como no espírito de mamãe estavam presentes os princípios, a gravidade, a imobilidade e a perplexidade, perguntando-se ela, a cada instante,  como agir e como conduzir de modo acertado o curso das coisas. Conservando sempre o equilíbrio entre a calma e a apreensão: “Pode ser que algo não corra como espero. Não desejo o resultado desfavorável de nenhum modo, exceto se for inevitável. Vejamos a situação com serenidade, sem aflições desnecessárias. Se não der certo, Deus é Pai, e Nossa Senhora é minha Mãe; permitirão o melhor para mim.”
A meu ver, essa calma dentro da apreensão constitui um belo estado de espírito que eu pude observar em Dona Lucilia, assim como outros que se compunham na alma dela, à maneira de ogivas.
 Dificuldade do homem moderno em obedecer
Nesse sentido, chama particularmente a atenção em certas  fisionomias de mamãe  a conjunção entre amenidade, a afabilidade  e a intransigência nos princípios que a norteiam. E essa harmonia nos causa especial comprazimento. Por quê?
Talvez a maior dificuldade existente no homem concebido no pecado original venha a ser que, em determinado momento, pronuncia-se nele um pendor oposto ao dever. E essa inclinação em geral é para o agradável, pois ninguém se sente atraído para o dissabor. Assim, quando o pendor se anuncia, apresenta-se com o aspecto de uma atração deleitosa, não raro enfática, acompanhada de uma espécie de cegueira por onde a pessoa não discerne claramente o mal encerrado naquilo que a seduz.
Ora, posto nesse estado de atração, não há nada que o homem mais deteste do que ouvir a repreensão, baseada na Lei de Deus. Ele não quer ouvir falar em virtude, em obediência aos Mandamentos. Não quer, e não os pratica, pois a virtude só é verdadeiramente virtude quando a pessoa age por persuasão, convicta do que não deve fazer. De tal maneira que esteja vincado no seu espírito essa resolução: “Ainda que eu não veja porquê, sendo uma disposição da autoridade  competente,  não  posso  transgredir a  Lei  de Deus; devo obedecê-la. Ele tem o direito de mandar em mim, e agirei de modo acertado se tiver gosto e alegria em acatar  suas disposições, ainda que não as entenda.”

Eis um elemento de virtude indispensável, sem o qual  não  há virtude autêntica. E é o que vai desaparecendo do espírito do homem moderno.
Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência em 23/3/1982

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