A
saúde de Dª Lucilia, com o correr do tempo, ia cada vez mais inspirando
preocupações. Tendo sofrido, em determinado momento, um agravamento súbito, foi
necessário tirar uma radiografia. Por estar ela já com as forças debilitadas,
seu filho contratou um técnico que realizasse esse exame no próprio
apartamento.
Dr.
Plinio ficou à espera dele, a fim de conduzi-lo ao quarto materno. Quando ele
chegou, carregando todos os apetrechos radiológicos, entraram ambos no
aposento. Era um homem de meia-idade, avantajada compleição, moreno, pele
escurecida pelo sol, habituado a trabalhos pesados, e com uma certa
insensibilidade às dores alheias. Este último aspecto não é de estranhar, pois
sua profissão o punha em constante contato com as mais variadas formas de
sofrimento humano causado pela enfermidade ou até pela iminência da morte.
Sem
sequer olhar Dª Lucilia, o técnico a saudou com um banal “boa-noite”, e começou
a preparar os aparelhos para efetuar “mais um serviço”, quiçá o último daquele
dia. Porém, tais eram a ternura e o carinho com que Dr. Plinio tratava sua mãe,
que o homem talvez se tenha surpreendido. Parou, então, de lidar com seus
instrumentos, e quis ver quem era objeto de tanto afeto. Olhou detidamente para
Dª Lucilia. Visivelmente comoveram-se as fibras mais sensíveis de sua alma.
Aproximou-se da cama e, num gesto de carinho, passou seu enorme dedo por
debaixo do queixo dela, dizendo ao mesmo tempo, enlevado:
—
Como ela é boazinha!
Era
a afetividade brasileira que falava no fundo da alma daquele robusto homem...
Dona Lucilia permaneceu em silêncio, sem se mover, como se nada tivesse notado,
apesar de tão inopinado gesto constituir involuntária falta de respeito para
com a veneranda enferma.
Seu
filho, percebendo como a benquerença de Dª Lucilia tocara aquele coração, por
sua vez nada disse. Apenas guardou do fato terna e saudosa recordação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário