terça-feira, 15 de abril de 2014

Um ocaso glorioso

Reportemo-nos ao dia 21 de abril de 1968. 
Em  seu  apartamento,  Dona  Lucilia  encontrava-se desde há dias em seu leito, assistida por  um médico. Dr. Plinio achava-se, no quarto ao  lado, ainda convalescente, devido a uma terrível  crise de diabetes.
Por volta das 10 horas da manhã, o enfermeiro procurou o médico, avisando que Dona Lucilia não estava passando bem.
Manifestando certa estranheza, pois às 8:20 lhe aplicara uma injeção e nada fazia prever que a morte estivesse próxima, o clínico dirigiu-se imediatamente ao quarto dela.
Deitada, sem apoio em travesseiros, com os  olhos fechados e movendo os lábios como quem  rezava, Dona Lucilia tinha as mãos uma sobre a  outra, no peito.
Ao tomar-lhe o pulso e verificar quão lenta e  fracamente batia, o médico percebeu a proximidade dos últimos momentos. Pediu então ao enfermeiro que avisasse logo Dr. Plinio. Era necessário que ele se locomovesse sozinho e com  enorme esforço até o quarto de sua mãe que  partia para a Eternidade.
Nesse  meio  tempo,  Dona  Lucilia,  que  não  deixara de mover os lábios — sentindo em seu  coração haver chegado a hora da solene despedida desta vida — com decisão retirou a mão segura pelo médico, e com um gesto delicado, mas  firme,  sem  manifestar  esforço  ou  dificuldade,  fez um grande e lento sinal da cruz.

Depois, repousou no peito suas mãos alvíssimas, uma sobre a outra, e serenamente expirou  na véspera do dia em que completaria 92 anos… 

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