A bondade
de Dª Lucilia não tinha limites para com o faltoso arrependido. Entretanto, se
discernisse que o melhor remédio para erradicar o mal era impor sua autoridade,
ainda que esta pudesse ser desagradável, não hesitava em exercê-la. As
características dela nos fazem lembrar o belo ensinamento de São Boaventura: Se eu te amo e te dou dignidade ou
liberdade, e tu hás de usar mal dela, se eu ta der, não seria benigno, mas sim
maligno.1
Às vezes tornava-se
indispensável tomar atitudes enérgicas, sobretudo no tocante ao governo da
casa. Por exemplo, em relação às criadas. Para Dª Lucilia, em primeiro plano,
estava o cumprimento do dever, e ela sabia fazer valer sua posição com a
naturalidade de quem exerce um senhorio, sem ter necessidade de humilhar ou de
pisar seus subordinados.
Quando se
tratava de censurar uma empregada por algum serviço mal feito, ou grave
omissão, fazia-o sempre com suas maneiras brandas e nunca diante de outros,
para que a admoestação não ferisse a sensibilidade da faltosa. Um bom conselho,
uma palavra de estímulo, davam por encerrado o assunto.
Porém as
circunstâncias exigiam, noutras ocasiões, medidas mais drásticas. Difíceis
situações em que a bondade parece entrar em conflito com o senso de justiça.
Nada disso perturbava sua paz interior. Após refletir, tomava serenamente a
decisão: era imperioso despedir a empregada. Então fazia as contas e verificava
quanto lhe devia pelos dias de trabalho. Escrevia o total, a lápis, numa
notinha e prendia o dinheiro à tira de papel com um alfinete ornamental. Depois
mandava chamar a empregada e, de modo amável, lhe dizia:
— Fulana, é
melhor você sair...
Explicava-lhe
então com toda a calma os motivos que a levavam a demiti-la. Era um pequeno
julgamento. Porém, nunca faltava uma palavra de consolo, um gesto de caridade,
que movessem a culpada ao arrependimento e lhe deixassem uma profunda saudade
na alma.
Concluído o
acerto, dizia com igual benevolência:
— Vamos nos
despedir agora. Eu desejo que você seja feliz, e que Deus a acompanhe.
A criada
partia para continuar sua existência por outros caminhos. Nesse dia,
certamente, Dª Lucilia haveria de fazer por ela especiais orações, para que o
Sagrado Coração de Jesus a amparasse nas incertezas da vida...
1 Obra de San Buenaventura, 3ª ed., Madrid, BAC, 1972, vol.III, p.262
Transcrito, com adaptações, da obra
“Dona Lucilia”, de Mons. João S. Clá Dias
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