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Plinio Correa de Oliveira aos 22 anos |
DªLucilia cuidou especialmente para que seu filho não se desviasse do cumprimento das
obrigações familiares ou de cortesia, fosse qual fosse o modo de pensar daqueles
a quem se devia deferência. Dr. Plinio tinha em sua mãe o melhor exemplo a
seguir, posto ser ela exímia observadora dessas normas.
Um dia, durante o almoço, um
dos parentes mais chegados de Dª Lucilia anunciou que iria fazer uma
conferência sobre matéria científica, ligada à sua profissão. A simpática
comunicação significava discreto convite aos presentes, mais concretamente aos
homens, visto não se interessarem as senhoras por esse tipo de temas.
Dª Lucilia desejou-lhe bom
sucesso na exposição e permaneceu meio distante do assunto, mas seu filho logo
percebeu que não escaparia com facilidade do incômodo evento. O tema da
conferência, para quem dele não entendia, parecia extremamente árido e
aborrecido. Dr. Plinio achou melhor nada dizer. “Quem sabe — pensou com seus
botões — mamãe se esquece e não pede que eu vá...”
No entanto, em se tratando de
fazer amabilidade a alguém, não havia perigo; esse lapso de memória ela não
teria. Poucos dias depois, com toda a suavidade, lembrou a Dr. Plinio:
— Filhão, você se recorda da
conferência de seu parente hoje?
Percebendo ser impossível
furtar-se da “tortura” intelectual, ele respondeu com toda a submissão:
— Sim, senhora, lembro-me.
Ela continuou:
— Você sabe, filhão, que deve
comparecer, não é?
Dr. Plinio tentou um último
recurso para conseguir escapar:
— Mas, meu bem, não entendo do
tema, não faz sentido eu ir...
Não houve remédio. Os
argumentos, envoltos em doçura e jeitosamente apresentados por ela, eram
irresistíveis. A palestra se realizou numa pequena sala do edifício Martinelli,
no centro de São Paulo. O conferencista mostrou-se uma verdadeira revelação,
conseguindo transformar um assunto, de si monótono, em algo atraente e
interessante para um auditório de leigos naquela especialidade.
De volta a casa, Dr. Plinio
elogiou muito o expositor. A princípio, Dª Lucilia pensou estar ele ironizando,
mas ao notar que falava seriamente, ficou contente, pois dali havia resultado
um bem, tanto para aquele seu parente, que se sentira satisfeito com a presença
de Dr. Plinio, como para este, que havia gostado de ouvi-lo.
A passagem de ano de Dª Lucilia
Dada a profunda seriedade de
espírito de Dª Lucilia, possuía ela um modo próprio de comemorar a passagem de
ano. Ao chegar o último dia de dezembro, rememorava tudo quanto havia ocorrido
em sua vida particular, como também no âmbito de sua família. Era quase um
exame de consciência: “Como foi o ano? Foi pior ou melhor que o anterior? Quais
as graças que nos foram concedidas pela Santíssima Virgem? Como correspondemos
a esses benefícios?...”
Se, como afirma o Divino
Mestre, “até os próprios cabelos da vossa cabeça estão todos contados (Mt 10,
30), quanta importância deve ter aos olhos de Deus a existência de qualquer
criatura humana? Esta consideração era suficiente para atrair a atenção de Dª
Lucilia sobre os acontecimentos do ano que se findava.
Depois de agradecer ao Sagrado
Coração de Jesus e a Nossa Senhora todas os dons recebidos, implorava proteção
para o novo ano.
À noite, Dr. Plinio ia à
igreja, onde os Congregados Marianos, em conjunto, assistiam ao cântico do Te
Deum, que naquela ocasião se revestia de especial solenidade. Despedia-se de Dª
Lucilia ao sair, e ela o abraçava pela última vez no ano, com todo o afeto,
abençoava-o e lhe fazia inúmeras cruzinhas na fronte.
Ao voltar da igreja, já bem
depois da meia-noite, ele encontrava Dª Lucilia terminando de preparar uma
pequena ceia, sempre mais simples que a da noite de Natal. Ela o recebia com
todo o carinho, reservando as primeiras felicitações de Ano Novo ao seu
“filhão”. Depois sentavam-se à mesa, Dr. Plinio contava como tinha sido a
cerimônia religiosa e ficavam conversando até altas horas, sem se preocuparem
com o relógio. Era a primeira “prosinha” do ano...
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