sábado, 27 de abril de 2013

Cumprimento das obrigações

Plinio Correa de Oliveira aos 22 anos

DªLucilia cuidou especialmente para que seu filho não se desviasse do cumprimento das obrigações familiares ou de cortesia, fosse qual fosse o modo de pensar daqueles a quem se devia deferência. Dr. Plinio tinha em sua mãe o melhor exemplo a seguir, posto ser ela exímia observadora dessas normas.
Um dia, durante o almoço, um dos parentes mais chegados de Dª Lucilia anunciou que iria fazer uma conferência sobre matéria científica, ligada à sua profissão. A simpática comunicação significava discreto convite aos presentes, mais concretamente aos homens, visto não se interessarem as senhoras por esse tipo de temas.
Dª Lucilia desejou-lhe bom sucesso na exposição e permaneceu meio distante do assunto, mas seu filho logo percebeu que não escaparia com facilidade do incômodo evento. O tema da conferência, para quem dele não entendia, parecia extremamente árido e aborrecido. Dr. Plinio achou melhor nada dizer. “Quem sabe — pensou com seus botões — mamãe se esquece e não pede que eu vá...”
No entanto, em se tratando de fazer amabilidade a alguém, não havia perigo; esse lapso de memória ela não teria. Poucos dias depois, com toda a suavidade, lembrou a Dr. Plinio:
— Filhão, você se recorda da conferência de seu parente hoje?
Percebendo ser impossível furtar-se da “tortura” intelectual, ele respondeu com toda a submissão:
— Sim, senhora, lembro-me.
Ela continuou:
— Você sabe, filhão, que deve comparecer, não é?
Dr. Plinio tentou um último recurso para conseguir escapar:
— Mas, meu bem, não entendo do tema, não faz sentido eu ir...
Não houve remédio. Os argumentos, envoltos em doçura e jeitosamente apresentados por ela, eram irresistíveis. A palestra se realizou numa pequena sala do edifício Martinelli, no centro de São Paulo. O conferencista mostrou-se uma verdadeira revelação, conseguindo transformar um assunto, de si monótono, em algo atraente e interessante para um auditório de leigos naquela especialidade.
De volta a casa, Dr. Plinio elogiou muito o expositor. A princípio, Dª Lucilia pensou estar ele ironizando, mas ao notar que falava seriamente, ficou contente, pois dali havia resultado um bem, tanto para aquele seu parente, que se sentira satisfeito com a presença de Dr. Plinio, como para este, que havia gostado de ouvi-lo.
A passagem de ano de Dª Lucilia
Dada a profunda seriedade de espírito de Dª Lucilia, possuía ela um modo próprio de comemorar a passagem de ano. Ao chegar o último dia de dezembro, rememorava tudo quanto havia ocorrido em sua vida particular, como também no âmbito de sua família. Era quase um exame de consciência: “Como foi o ano? Foi pior ou melhor que o anterior? Quais as graças que nos foram concedidas pela Santíssima Virgem? Como correspondemos a esses benefícios?...”
Se, como afirma o Divino Mestre, “até os próprios cabelos da vossa cabeça estão todos contados (Mt 10, 30), quanta importância deve ter aos olhos de Deus a existência de qualquer criatura humana? Esta consideração era suficiente para atrair a atenção de Dª Lucilia sobre os acontecimentos do ano que se findava.
Depois de agradecer ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora todas os dons recebidos, implorava proteção para o novo ano.
À noite, Dr. Plinio ia à igreja, onde os Congregados Marianos, em conjunto, assistiam ao cântico do Te Deum, que naquela ocasião se revestia de especial solenidade. Despedia-se de Dª Lucilia ao sair, e ela o abraçava pela última vez no ano, com todo o afeto, abençoava-o e lhe fazia inúmeras cruzinhas na fronte.
Ao voltar da igreja, já bem depois da meia-noite, ele encontrava Dª Lucilia terminando de preparar uma pequena ceia, sempre mais simples que a da noite de Natal. Ela o recebia com todo o carinho, reservando as primeiras felicitações de Ano Novo ao seu “filhão”. Depois sentavam-se à mesa, Dr. Plinio contava como tinha sido a cerimônia religiosa e ficavam conversando até altas horas, sem se preocuparem com o relógio. Era a primeira “prosinha” do ano...

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