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As almas desabrocham na dor
A personalidade dela era
natural e legitimamente construída para um âmbito que, ao longo dos dias e das
dores, devia se abrir. E somente dores muito sérias e nobremente aceitas, com o
olhar posto na cruz, iriam abrindo aquele âmbito, mas abrindo dolorosamente.
Dir-se-ia que a
Providência quis reservar o espetáculo de um desabrochar. Era normal que
tivéssemos, portanto, um horizonte que se fosse abrindo.
A abertura na dor...
Isso daria para falar nem sei quantas coisas; pretendo dizê-las no momento
oportuno porque está chegando a hora de insistir a respeito do papel do
sofrimento e da suprema beleza da luta na vida, etc., de se valorizar essa
noção em toda a sua perspectiva.
O próprio de uma alma é
desabrochar na dor e, para esse tipo de alma, o sofrer gradualmente é um sofrer
dolorido. E quando há união de almas assim, muitas vezes elas maturam ora na
alegria e na afinidade, ora na dor.
Não quero dizer que nos
contatos de mamãe comigo não tenham, às vezes, surgido perplexidades e
dificuldades, porque acho que ela tomou toda a sua abertura mais ou menos no
fim da vida.
Quanto mais ela me
quisesse, mais minha ausência devia fazê-la sofrer. Ela estava no direito de
pensar, normalmente: “Ou sou eu a mãe tão vazia que não comove meu filho, ou
ele é um filho de pedra. Que equívoco existe entre nós?” E eu saía para fazer
uma reunião onde alguns não aproveitavam o que eu lhes oferecia. Eu a deixava
sozinha e ia cumprir o meu dever.
Quantos equívocos assim
pode haver? E tanto mais doloridos quanto mais íntimos! Todos sabem que um grão
de areia entre o globo ocular e a pálpebra deixa um homem louco, por causa da
íntima adesão entre a pálpebra e o globo ocular. Entre mãe e filho, nessas
condições, isso é como um grão de areia...
Isto fica dito apenas de
passagem para entenderem bem que não é um processo pacífico, como o desabrochar
de uma flor, mas que as almas desabrocham crucificando-se.
Creio que aquilo que ela
não compreendeu em vida fê-la acumular reservas de afeto, de solicitude, as
quais ficaram como uma espécie de tesouro para post mortem. E hoje ela
compreende.
Vendo como mamãe trata
os aqui presentes, eu me lembro de como ela tratava a mim. Tenho a impressão,
às vezes, de que estiveram há minutos com ela, conversaram um pouco, mas saíram
impregnados da presença dela; um certo bom trato grave, sério, suave,
enormemente condescendente, abarcativo, que diz uma palavra e passa e é o
suficiente para um dia, mas cria uma vontade de voltar.
Toda graça, de que o
“Quadrinho” ou a sepultura dela possa ser ocasião, diz “até daqui a pouco” ou,
“até amanhã”; nunca corre a cortina, bem à maneira dela.
Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 16/5/1981
1) Município localizado
na região centro-leste do Estado de São Paulo. 2) Os pais de Santa Teresinha do
Menino Jesus, Luís Martin e Zélia Guérin, foram beatificados em 31 de outubro
de 2008. 3) Termo utilizado em Filosofia, significando matriz, padrão. 4)
Quadro a óleo, que muito agradou a Dr. Plinio, pintado por um de seus
discípulos, com base nas últimas fotografias de Dona Lucília.
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