quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Fatos da vida doméstica de Dona Lucilia

Serenidade, tranquilidade e bondade constituíam a nota tônica no modo de Dona Lucilia gerir os assuntos domésticos. Plinio Correa de Oliveira descreve alguns pequenos episódios, vividos com temperança e elevação de alma, que deixavam entrever a prática de sólidas virtudes cristãs em meio ao cotidiano de uma dona de casa.
O modo de mamãe governar nossa casa é um assunto a respeito do qual nunca procurei fazer uma vista de conjunto, pela seguinte razão: era uma residência pequena, muito fácil de dirigir e muito bem dirigida, de maneira a causar a impressão, pela manhã, de que os objetos, os quais ao final do dia anterior estavam naturalmente um tanto desarranjados, tinham voltado por si mesmos aos seus devidos lugares, e que durante a noite a poeira fugira dos móveis.
Discrição, temperança e bondade ao dirigir os assuntos da casa
Por causa de seu gênio extraordinário, minha mãe era muito bem sucedida em matéria de empregadas. Estas demoravam um bom tempo trabalhando para ela e, quando saíam, era por não haver remédio: tinham encargos de família ou coisas semelhantes; às vezes, ainda voltavam para visitá-la. Assim, o problema das empregadas, muito tormentoso em diversos lugares — já naquele tempo as donas de casa se queixavam —, com ela não existia.
Dona Lucilia era muito discreta no que diz respeito aos problemas da casa, os quais eram pequeninos, e ela mesma os resolvia tão bem, que não se percebia terem existido. Não costumava se queixar nem sequer dos preços que subiam. Às vezes, ela me dizia: “Filhão, é preciso aumentar a verba...”; ou eu, prevendo a necessidade de aumentá-la, já entrava com o dinheiro, antes mesmo de mamãe pedir. Mas isso era feito com a naturalidade com que se toma um copo de água.
Realizamos algumas reformas na residência; na parte que lhe dizia respeito, ela orientava as mudanças perfeitamente bem. A seu tempo estava tudo instalado, mas ela não era nem um pouco o tipo de senhora supereficaz, nem superprática. Não se sentia nela aquela calefação desagradável da eficácia, característica da dona de casa que está fungando, e diz que fez isso, mais aquilo... Não! Dona Lucilia fazia tudo, mas com tanta bondade, tanta serenidade, tanta tranquilidade, que nem se percebia ter havido alguma dificuldade.
Mamãe tinha o hábito de tomar o café da manhã logo ao despertar. Geralmente, eu ainda não havia me levantado, e meu pai, que era muito mais madrugador, já estava acordado, lendo o jornal. Ela não se perturbava pelo fato de ele acender o abajur e abrir a janela. Tinha um sono caudaloso; dormia tranquilamente até a hora estipulada para acordar, com respiração profunda e muito regular, correspondente às suas boas condições cardíacas e, sobretudo, à sua temperança.
Mas quando meu pai saía mais cedo, ela ficava sozinha e recebia a empregada com a qual entrava em confabulações. Mamãe fazia-lhe perguntas sobre sua vida, e a empregada chorava suas complicações; desconfio que ela a ajudava financeiramente e lhe dava conselhos. Às vezes, transpirava alguma coisa do que a empregada lhe contava, quando não era confidencial e mamãe imaginava que podia nos entreter. Fora disso não saía nada. Também ninguém se interessava por saber.

Lembro-me de alguns minúsculos fatos domésticos, como competia a uma dona de casa, com uma residência tão pequena, e recebendo poucas visitas. A minha irmã, o marido dela e a filha desse casal iam a nossa casa com alguma frequência tomar uma refeição e conversar um pouco; também uma tia minha, irmã de mamãe, nos visitava bastante, mas no total isso formava um movimento doméstico muito pequeno.
Continua no próximo post

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