Serenidade,
tranquilidade e bondade constituíam a nota tônica no modo de Dona Lucilia gerir
os assuntos domésticos. Plinio Correa de Oliveira descreve alguns pequenos
episódios, vividos com temperança e elevação de alma, que deixavam entrever a
prática de sólidas virtudes cristãs em meio ao cotidiano de uma dona de casa.
O modo de mamãe governar
nossa casa é um assunto a respeito do qual nunca procurei fazer uma vista de
conjunto, pela seguinte razão: era uma residência pequena, muito fácil de
dirigir e muito bem dirigida, de maneira a causar a impressão, pela manhã, de
que os objetos, os quais ao final do dia anterior estavam naturalmente um tanto
desarranjados, tinham voltado por si mesmos aos seus devidos lugares, e que
durante a noite a poeira fugira dos móveis.
Discrição, temperança e bondade ao dirigir os assuntos da casa
Por causa de seu gênio
extraordinário, minha mãe era muito bem sucedida em matéria de empregadas. Estas
demoravam um bom tempo trabalhando para ela e, quando saíam, era por não haver
remédio: tinham encargos de família ou coisas semelhantes; às vezes, ainda
voltavam para visitá-la. Assim, o problema das empregadas, muito tormentoso em
diversos lugares — já naquele tempo as donas de casa se queixavam —, com ela
não existia.
Dona Lucilia era muito
discreta no que diz respeito aos problemas da casa, os quais eram pequeninos, e
ela mesma os resolvia tão bem, que não se percebia terem existido. Não
costumava se queixar nem sequer dos preços que subiam. Às vezes, ela me dizia:
“Filhão, é preciso aumentar a verba...”; ou eu, prevendo a necessidade de
aumentá-la, já entrava com o dinheiro, antes mesmo de mamãe pedir. Mas isso era
feito com a naturalidade com que se toma um copo de água.
Realizamos algumas
reformas na residência; na parte que lhe dizia respeito, ela orientava as
mudanças perfeitamente bem. A seu tempo estava tudo instalado, mas ela não era
nem um pouco o tipo de senhora supereficaz, nem superprática. Não se sentia
nela aquela calefação desagradável da eficácia, característica da dona de casa
que está fungando, e diz que fez isso, mais aquilo... Não! Dona Lucilia fazia
tudo, mas com tanta bondade, tanta serenidade, tanta tranquilidade, que nem se
percebia ter havido alguma dificuldade.
Mamãe tinha o hábito de
tomar o café da manhã logo ao despertar. Geralmente, eu ainda não havia me
levantado, e meu pai, que era muito mais madrugador, já estava acordado, lendo
o jornal. Ela não se perturbava pelo fato de ele acender o abajur e abrir a
janela. Tinha um sono caudaloso; dormia tranquilamente até a hora estipulada
para acordar, com respiração profunda e muito regular, correspondente às suas
boas condições cardíacas e, sobretudo, à sua temperança.
Mas quando meu pai saía
mais cedo, ela ficava sozinha e recebia a empregada com a qual entrava em
confabulações. Mamãe fazia-lhe perguntas sobre sua vida, e a empregada chorava
suas complicações; desconfio que ela a ajudava financeiramente e lhe dava
conselhos. Às vezes, transpirava alguma coisa do que a empregada lhe contava,
quando não era confidencial e mamãe imaginava que podia nos entreter. Fora
disso não saía nada. Também ninguém se interessava por saber.
Lembro-me de alguns
minúsculos fatos domésticos, como competia a uma dona de casa, com uma
residência tão pequena, e recebendo poucas visitas. A minha irmã, o marido dela
e a filha desse casal iam a nossa casa com alguma frequência tomar uma refeição
e conversar um pouco; também uma tia minha, irmã de mamãe, nos visitava
bastante, mas no total isso formava um movimento doméstico muito pequeno.
Continua no próximo post
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