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A casa na
Ilhabela, deixada pelo amigo
José Gustavo de Souza Queirós
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Era José Gustavo membro dedicado do “Grupo do
Legionário”. Tratava-se daquele amigo íntimo de Dr. Plinio que,
em 1937, a bordo do navio Neptunia, a caminho da Europa, oferecendo
generosamente o sacrifício de sua vida pelas batalhas de Dr. Plinio
em prol da Santa Igreja. Em seu testamento, deixou aos companheiros
de luta alguns terrenos na ilha de São Sebastião, que foram
trocados pelo sétimo andar de um edifício na rua Vieira de
Carvalho. Mais tarde seu pai, Antoni de Souza Queiroz, doaria aos
mesmos amigos o sexto andar desse prédio onde Dr. Plinio instalará,
em 1948, a nova sede de seu grupo. Dada a boa localização do
imóvel, quase no centro de São Paulo, Dr. Plinio alugou para sua
própria moradia o quarto andar, para onde se mudou com seus pais. Aí
Dª Lucilia viveria por seis anos, dos quais seu filho guardou sempre
inesquecíveis recordações.
As providências referentes aos terrenos deixados por
seu amigo levaram Dr. Plinio, em junho de 1946, à ilha de São
Sebastião. De Ilhabela escreveu a Dª Lucilia, explicando- lhe o
motivo de sua demora ali:
Manguinha
do coração,
Como
a Sra. saberá por Adolphinho, minha estadia aqui se prolonga por
motivos bem justos. Tivemos delongas na assinatura da escritura,
porque foi preciso pôr em ordem papéis que o nosso José Gustavo
deixara algum tanto embrulhados. Mesmo depois de ter sido assinada a
escritura, ainda ficaram questões a serem reguladas com a Marinha
Nacional, para o que apenas ontem conseguimos dar os passos
convenientes. Ainda assim, não ficou tudo elucidado. Com efeito,
apareceu agora a possibilidade de serem as terras do José Gustavo
consideravelmente mais extensas do que nos disse o Antoni e está
muito difícil de tirar a limpo a questão. Penso mesmo que não o
conseguiremos. Por fim, é preciso que nos inteiremos com vagar das
condições de aproveitabilidade do local, preços por que podemos
vender as tais casas, etc., etc. Em uma palavra, trata-se da
traslação de um patrimônio não pequeno, aplicado em imóveis
diferentes, e exigindo cuidado e atenção.
Aqui
tudo se faz devagar: ninguém tem pressa, preciso esperar por todos.
Assim, tenho aproveitado para descansar muito, o que tenho verificado
ser muito mais necessário do que eu supunha. Descansando, é que
verifiquei o quanto eu estava cansado. O clima aqui é excelente,
panoramas lindíssimos, convento altamente pitoresco e interessante,
passadio bem sofrível, companhia excelente. Tudo, enfim, concorre
para me tornar a estadia aqui a mais proveitosa e atraente que se
possa desejar. Falta-me alguém, em quem penso muitas vezes, sempre
que vejo um bonito panorama, uma bonita flor, algum objeto bem
artístico. Preciso dizer que é a Manguinha do meu coração?
Como
vai a Sra., meu amor? O fígado se comporta bem? E os resfriados? E o
coração.... muito cheio de saudades? Suponho que, às vezes, quando
a Sra. está só, surpreende-se a dizer “oooh Pliiiinio!”
Minha
volta está condicionada às noticias que receba do corretor. De
qualquer maneira, segunda-feira eu devo estar aí impreterivelmente.
Bem,
meu amor, mil abraços, mil beijos, todos os agrados, agradões (às
vezes um pouco rústicos) e agradinhos possíveis, do filho que lhe
quer imensamente e lhe pede a bênção.
Plinio
Na resposta a essa carta, Dª Lucilia se mostrava
resignada com a demora do regresso de seu filho a São Paulo, pois
sabia estar ele aproveitando para descansar um pouco. E não seria
ela mesma se não lembrasse a Dr. Plinio de rezar pelo eterno
descanso do saudoso José Gustavo, cuja morte prematura tanto a
penalizara.
S.
Paulo, 26-6-946
Plinion
querido!
Quando
vi o Adolphinho entrar só, fiquei deveras desapontada, pois as
saudades são muitas, mas, refletindo bem, estimei que tivesses
ficado. Precisas realmente de um bom repouso com mais freqüência,
para não chegares ao estado de cansaço em que te achas. É pena que
este novo “El Dorado” (...) seja tão distante, de tão difícil
acesso, e baldo de recursos!
Vê
se não fazes imprudências e se voltas mais repousado, mais forte
e.... sempre querido! Acho uma falta enorme em você, mas acho
preciso que te demores mais um pouco. Pelo que vejo, este negócio de
S. Sebastião vai ser um dos tais intermináveis, que leva anos!
Vou
tentar enviar-te pelo ônibus, umas latas de bolachas, língua e
sardinhas. Coitados, que saudades de um pãozinho, mesmo de fubá,
não? Estimarei que mesmo assim, aproveitem todos muito a estadia aí,
recomendando-me a todos.
Imagino
como devem ter todos sempre presente a memória do bom amigo José
Gustavo! Rezem e comunguem por ele!
E dando a notícia de sua participação na novena ao
Sagrado Coração de Jesus e na procissão de Corpus Christi,
mencionada acima, Dª Lucilia encerrava mais uma de suas cartas ao
“filhão querido”, repassada de carinho e saudades.
Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”,
de Mons. João S. Clá Dias
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