segunda-feira, 27 de março de 2017

Mentalidade anti-igualitária

Dona Lucilia tinha grande respeito pelas pessoas superiores a ela. E também muita consideração pelos inferiores, respeitando neles a sua própria natureza, e reverenciando, desta maneira, o Verbo de Deus que Se fez carne e habitou entre nós.
Quando contemplamos o Quadrinho, vemos que Dona Lucilia estava no fim de sua vida. Ela não sabia disso, mas alguns meses depois ela morreria, estando por completar 92 anos de idade. É uma belíssima idade!
Alegria em ajudar um mendigo
No Quadrinho a lucidez dela aparece inteiramente, e encontramos algo naquela atitude, naquele olhar, naquele modo de analisar as coisas, por onde se aparecesse diante dela um mendigo, o mais pobre, o mais carente de educação e de categoria, ela jamais faria a seguinte reflexão: “Como esse sujeito é nada, como eu sou mais do que ele! Não era próprio que ele estivesse na minha presença.”
É evidente que a alma dela voava para esta outra posição: “Coitado, ele é uma criatura humana como eu, é batizado, foi resgatado pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e Nossa Senhora o tem como filho. Olhe como ele está precisando de um auxílio! Tenho pena dele e vou ajudá-lo!”
Não seria uma postura igualitária, como quem dissesse: “Esse mendigo é igual a mim, vem cá, dá-me um aperto de mão!” Não. Ele é um mendigo, mas uma criatura humana e um filho de Deus; e enquanto tal, por certo aspecto, é igual a mim. Então, embora ele permaneça na sua posição de mendigo, vou prestar-lhe todo o auxílio que eu puder. Se me for possível dar-lhe dinheiro, emprego, instalação para ele se lavar e  arranjar, roupa, de maneira que ele saia daqui outro, farei isso na hora e com muita alegria. Embora essa roupa não fosse a de um ministro e sim de um homem do povo, mas digna e distinta, própria de uma pessoa de condição modesta: mas esta eu daria para ele.
Isso seria para Dona Lucilia um regalo. Porém, prazer maior seria se ela pudesse dar o mesmo para toda a família do mendigo. E naquela noite o mendigo e sua família jantariam vestidos, cobertos, à vontade, com o dia seguinte garantido, com trabalho para todos. Seria uma satisfação, e mamãe contaria isso para todo mundo, não para mostrar que ela fez, mas para manifestar a alegria que ela e os beneficiados tiveram, o que eles disseram, etc.
Dir-se-ia que na primeira atitude hipotética — que Dona Lucilia não tomaria — ela demonstraria muito respeito a si porque estaria olhando para o mendigo com superioridade. Mas este seria um respeito superficial porque, substancialmente, ela é uma criatura humana e todo o resto são acidentes. O mendigo é uma criatura humana também e, embora os acidentes sejam desiguais, a natureza é a mesma. Assim sendo, ela não se respeita desprezando sua própria natureza.
A este propósito na Escritura há uma frase que, quando li, me agradou muito: “Não desprezes a tua própria carne…”
“Aceite esta medalha de Nossa Senhora das Graças!”
Na atitude de mamãe entrava fundamentalmente um respeito à dignidade humana e, eventualmente, à dignidade de católico do mendigo.
Não há dúvida de que, se o indivíduo demonstrasse ser um ímpio, a atitude dela mudava. Se ela julgasse haver alguma perspectiva de converter o homem, ela faria de tudo para convertê-lo. Mas se visse que era um desses como que inconversíveis, ela o atenderia e trataria bem, na medida em que não lhe facilitasse fazer propaganda da impiedade dele. Ao se despedirem, diria a ele: “O senhor quer fazer-me um favor? Aceite também esta medalha de Nossa Senhora das Graças, e use em lembrança desta velha senhora que lhe quer bem!”
Este é o modo cristão pelo qual ela, catolicamente, praticava o respeito ao inferior, respeitando nele a sua própria natureza, e reverenciando, desta maneira, o Verbo de Deus que Se fez carne e habitou entre nós.

Essa forma de respeitar pode-se aplicar ainda mais facilmente à pessoa de uma mesma categoria.
Continua no próximo post

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