quarta-feira, 9 de março de 2016

Transbordamento de bondade

Cada pessoa é chamada a simbolizar de modo especial uma determinada virtude. Dona Lucilia representava a bondade e fazia todas as coisas, mesmo as pequenas, com esmero e perfeição. As recordações de Plinio Correa de Oliveira transmitidas nesta conferência demonstram de sobejo essa realidade.
Dona Lucilia queria que eu fosse um homem probo, direito, reto, um católico. E se eu estivesse, por exemplo, com dor de garganta ela não diria: “Vou cuidar de você porque é meu filho. Se fosse um outro, eu não me incomodava.” Não! Ela trataria com muita bondade também esse outro, embora com menos efusão de bondade do que a manifestada a seu filho. Porque é próprio da bondade que ela se propague.
Ministrando remédios homeopáticos
E se eu fosse — que Deus me livre! — mau filho, ela seria igualmente boa e trataria minha dor de garganta do mesmo modo. É claro que a solicitude, o empenho maior de tudo quanto ela fazia convergia para a fidelidade à vocação, a glória de Deus.
Cada coisa pequena era feita com um esmero e uma perfeição, que indicavam o transbordamento da sua boa vontade.
Lembro-me, por exemplo, de mamãe entrar no quarto de Rosée ou no meu, quando estávamos doentes — essas doencinhas de crianças, tive quase todas —, trazendo os remédios homeopáticos. Ela tomava uma folha de papel, a qual dividia em dois e depois ia escrevendo cuidadosamente, a lápis, a hora correspondente a cada medicamento. Quando essa folha estava preenchida, ela arranjava outra e recomeçava a anotação, para ter certeza de não se distrair nenhuma vez e não faltar nenhum remédio.
Mamãe temperava, num copo, água com várias gotas de remédio, o que era tido como mais eficaz do que a pastilha. Quando chegava a hora, ela entrava sorrindo, levando na mão o copo com um pires em cima — para não evaporar aquela homeopatia preciosa — e uma colher.

Ela descobria o copo e dava o remédio com todo carinho, todo cuidado, para não pingar fora. Lembro-me do jeito da colher penetrar na boca; mamãe só a retirava depois de se ter certificado que eu tinha tomado tudo – mesmo sendo eu um meninão de 7, 8 anos, ainda era assim. Mas ela entrava no quarto tão afável, tão bondosa, tão comunicativa, tão carregada de promessas de que o remédio faria bem, que eu nem sei o que dizer! Era esse transbordamento. Se eu fosse mau filho, faria a mesma coisa. Ela não ia condicionar. Se condicionasse, trincava algo.
Continua no próximo post.

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