terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Dona Lucilia e a alegria do Natal II

Continuação do post anterior
A vida do homem virtuoso é mais entusiasmável
Aquilo tudo embebia profundamente a noite de Natal, dando a ideia — como era, aliás, o objetivo de Dona Lucilia — de que a vida do homem virtuoso, quando bem levada, é mais suportável, mais aceitável, incomparavelmente mais entusiasmável do que a vida do homem que não pratica a virtude. Creio que nos dias atuais a educação de uma criança não conta com este cuidado, mas Mamãe o tinha muito vivo.
Terminada a festa de Natal, meus primos voltavam para suas casas, e eu ia logo para minha cama. Dona Lucilia esperava eu estar dormindo para pôr aos meus pés um grande e pesado presente. Quando ainda de madrugada eu acordava ansioso para ver o presente, mais uma vez a valiosa educação que recebi de Mamãe me levava a ser temperante. Eu compreendia que não devia acender o abat-jour, e fazê-lo parecia-me uma desordem, não só por acordar os que estão dormindo, mas por um princípio superior, o qual me indicava que a hora de dormir é para dormir, e durante ela não se devia brincar, assim como durante a hora de brincar não se devia dormir.
No entanto, eu ficava imaginando o que seria o presente, e pouco tempo depois, como criança, caía no sono, voltando a acordar ainda algumas vezes.
Quando já estava claro, eu acordava mesmo! Levantava-me, pulava da cama e abria o presente. Era um gáudio e uma satisfação enormes. Ficava à espera de que Dona Lucilia acordasse para mostrar-lhe e receber ainda o abraço, o beijo e a bênção dela, que eram para mim um presente ainda maior do que o de São Nicolau. Isso tudo constituía a alegria quase angélica do Natal, que é quase impossível transmitir a alguém que não a tenha sentido.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 27/12/1975

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