Conclusão do post anterior
Bondade que não conduz ao relaxamento moral, mas à suma compunção
E aqui entra uma coisa
que estava profundamente no espírito de Dona Lucilia, e se encontra no âmago
dessa devoção: mostrar a imensidade do amor de Nosso Senhor para com o homem,
de um lado, dizendo: “Veja como você tem razões para confiar! Peça porque será
atendido! As portas da misericórdia estão abertas para você.”
Mas de outro lado
afirmava: “Veja o que representa todo o pecado, e o abismo de pecados em que a
humanidade está se precipitando! Tu fazes parte da coorte dos que Me ofendem. E
qual é o homem que, ao menos venialmente, não me ofendeu?”
Então, bater no peito,
pedir perdão, humilhar-se e compreender a gravidade do pecado. É, portanto, uma
bondade que não leva ao relaxamento moral, mas a uma suma compunção, suma
compenetração, e, portanto, muito reta, santa, direita. O equilíbrio católico,
apostólico, romano está nisso.
Tudo isto envolvia a
devoção ao Sagrado Coração de Jesus, ainda quando eu era menino. Mas notei que
essa devoção foi se retraindo com o tempo, ficando cada vez mais formal. Em
quase todas as igrejas havia uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, porém a
devoção foi perdendo densidade e as pessoas que rezavam para Ele já não viam
bem isso. As imagens perderam também muito dessa expressão, e aquela atmosfera
de seriedade cheia de tristeza, de gravidade, de nobreza da Igreja do Coração
de Jesus, em torno das imagens do Coração de Jesus foi se dissipando.
Fazendo perguntas análogas às do Sagrado Coração de Jesus
Mamãe vivia dentro
daquela atmosfera; ela rezava muito ao Sagrado Coração de Jesus, e toda a
devoção, a piedade dela se exercia em função de Nosso
Senhor visto assim. E,
como o bom discípulo em algo se parece ao mestre, devo dizer que inúmeras vezes
eu a vi interiormente lamentar, deplorar, sofrer e fazer perguntas análogas às
do Sagrado Coração de Jesus.
O que me tocava na
conduta dela e me atraía tanto era notar essa semelhança. Eu pensava: “Mas a
Igreja Católica é isto! Ela está na linha do espírito da Igreja Católica,
portanto, da verdade certa na qual se pode crer; este é o modelo, esta é a
via.” E isto me fez um bem sem conta.
Se o que expliquei pode
fazer um pouco de bem aos que estão neste auditório, dou o tempo por muito bem
empregado. Aliás, há uma devoção muito bonita: “Nossa Senhora do Sagrado
Coração”, que é Maria Santíssima considerada enquanto adorando o Sagrado
Coração de Jesus, e, portanto, toda voltada para Ele; se nós vemos isso n’Ele,
podemos imaginar o que Ela via!
Plinio Correa de Oliveira
– Extraído de conferência de
18 de junho de 1982
1) Cf. Ap 1, 16. 2) Sala
de visitas do apartamento de Dona Lucilia. 3) Termo utilizado na Teologia para
indicar, em Cristo, a união das duas naturezas – divina e humana – na Pessoa do
Verbo. 4) Jo 13, 1.
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