O admirável desapego que Dª Lucilia
tinha de si própria lhe conferia o perfeito equilíbrio entre duas virtudes
harmonicamente opostas, como eram seu senso de justiça e sua misericórdia. A
idade não fez senão acrisolar essas virtudes. Por exemplo, sempre que em sua
presença se apontava, por qualquer motivo, os defeitos de alguém, ela logo
chamava a si a defesa da vítima. Não para proteger lados censuráveis, mas para
impedir um juízo parcial sobre a pessoa em causa, pois devia-se considerar
também os aspectos bons que realmente tivesse.
Dessa forma comentava ela a respeito de
um conhecido, alvo das invectivas de espíritos menos conciliadores:
— É verdade... Mas, note que, por
exemplo, ele é sempre franco. Muitos, que não possuem o defeito dele,
entretanto são falsos. Esta franqueza tem seu valor. Ao se lhe apontarem os
defeitos, é preciso recordar tal qualidade.
Virtude da vigilância
Quando Deus quer implantar uma obra,
nunca falta com os meios, tanto sobrenaturais como naturais, para a sua
realização. Assim, por exemplo, ao suscitar uma nova ordem religiosa. A fim de
que ela se desenvolva e floresça, Deus favorece seu fundador com todos os dons
e carismas necessários que lhe possibilitem cumprir integralmente a vocação à
qual foi chamado. O mesmo se dá com a condição materna, magnífico símbolo da
Providência de Deus. Não raras vezes costumam ser as mães assistidas pelo
Espírito Santo com um certo discernimento dos espíritos, não só com vistas a
educar os filhos, mas também a guiá-los pelo caminho do bem ao longo da vida.
Esse dom — que em Dª Lucilia se
manifestou repetidamente sob a forma de alertas a seu filho para os perigos
desta ou daquela situação — foi de novo posto em realce por um pequeno
episódio. Estando ela a conversar em sua casa com alguns parentes e conhecidos,
fez-se referência à então recente nomeação de certo personagem para um cargo de
importância. Teceram-se alguns comentários sobre o caráter dele e, como Dª
Lucilia ainda não o conhecia, mostraram-lhe uma fotografia publicada naqueles
dias pela imprensa. Tinha ele relação com as atividades desenvolvidas por Dr.
Plinio, e por isso ela se interessou mais especialmente pelo assunto. Tomou o
jornal nas mãos, observou em silêncio por alguns instantes aquela fisionomia, e
comentou com tristeza:
— Ele não é boa pessoa, não...
Essas palavras, naqueles lábios
repletos de benquerença, surpreenderam os presentes, mas, como das vezes
anteriores, em breve os fatos viriam a lhe dar razão.
Continua no próximo post
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