As cogitações de Dª Lucilia atingiam o
ápice nos momentos em que ela se dirigia ao Sagrado Coração de Jesus. No
restante do dia ela mantinha os olhos postos em elevadas considerações, e
precisamente por isso podia descer com facilidade aos pequenos assuntos
domésticos, sem se deixar por eles absorver.
Vistos assim por Dª Lucilia, os fatos
do acontecer quotidiano faziam da vida tranquila e miúda do lar uma espécie de
despretensioso observatório do alto do qual se podiam ver as estrelas.
Sua atitude de alma nos traz à
lembrança um singelo exemplo, que Nosso Senhor tornou sublime ao incluí-lo em
suas belas e terríveis palavras sobre a infidelidade de Jerusalém: “Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas
vezes eu quis juntar os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintainhos
debaixo das asas, e tu não quiseste?” (Lc 13, 34-35).
Nosso Senhor, dando esse exemplo para
exprobrar a infidelidade da Cidade Santa, teve entre outros intuitos o de
mostrar que algo tão simples como a maternalidade de uma galinha em relação a
seus pintainhos, deve servir aos homens de elemento para meditação sobre a
grandeza do próprio Deus.
Elevação de alma nos episódios diários
Nas sendas do modelo divino, Dª Lucilia
elevava a mente a altos pensamentos, impregnados de sobrenatural, a partir dos
pequenos fatos do dia-a-dia. Exemplo disso era o encanto dela pelas
manifestações de amor materno que sua empregada Olga tinha pela filha.
Olga servia dedicadamente Dª Lucilia
havia já muitos anos. Trouxera consigo sua filha Carlota, em cuja educação se
empenhava com todo o esmero. Na época em que a menina fazia seus estudos
secundários, sua mãe matriculou-a num curso de datilografia, e era com grande
alegria que seguia de perto, passo a passo, seus progressos.
Dona Lucilia observava comprazida o
desvelo de Olga por Carlota. E, na primeira oportunidade, contava a Dr. Plinio
alguns episódios que mais lhe haviam tocado o coração materno.
Um deles era o retorno diário de
Carlota a casa, vinda do colégio. Dona Lucilia, pela porta da sala de jantar
entreaberta, acompanhava discretamente o que se passava na copa, onde a
doméstica trabalhava. À medida que a hora do regresso de Carlota se aproximava,
Olga ia ficando inquieta, até mesmo um pouco agitada. Olhava repetidas vezes para
o relógio de parede, parecendo querer apressar os ponteiros do mostrador, que
ao ritmo do tic-tac prosseguiam seu lento caminhar, insensíveis à expectativa
materna. Se ocorria algum atraso, ela passava para um estado de ligeiro
nervosismo, indo até o terraço para ver se dali descortinava a menina na rua.
Quando finalmente Carlota despontava ao
longe, as apreensões de Olga se desvaneciam como fumo. Ela corria alegremente
até a entrada do prédio para esperar a chegada da filha; ambas se beijavam e se
acariciavam efusivamente, como se Carlota estivesse voltando de uma longa
viagem.
Depois a mãe recuava um pouco para
melhor ver a filha e certificar-se de que ela estava perfeitamente bem. A
menina, ao contentamento de ver a mãe, somava o comprazimento por se sentir
objeto de tanta atenção. Quase sem dirigirem palavra uma à outra, iam para o
quarto de Olga, no fundo do apartamento, onde esta ouvia o relato de como
correra o dia, do que a filha aprendera de novo... Era a hora das confidências.
Dona Lucilia se encantava vendo tanto
afeto e fazia o possível para que nada perturbasse esses momentos de convívio
entre mãe e filha, chegando a atender, ela própria, ao telefone e à porta.
Pouco depois, Olga voltava ao serviço e Carlota se entregava às suas obrigações
escolares.
Dona Lucilia nunca tomava a iniciativa
de interferir no modo de Olga conduzir a educação da filha, mas sempre que a
empregada lhe pedia opinião sobre algum ponto, jamais recusava um bom conselho.
À noite, muitas vezes Dr. Plinio
iniciava a “prosinha” perguntando como fora a chegada de Carlota. Se havia
algum detalhe a assinalar, Dª Lucilia o contava. Um dia, por exemplo, Carlota
comprou um gorro, de modelo certamente sugerido pela própria mãe. Dona Lucilia
descreveu todo o encantamento de Olga ao ver chegar a filha tão contente com
seu novo adorno.
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