quinta-feira, 28 de março de 2013

Luminosa e maternal proteção


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Da tentação, “é tratar de fugir e às léguas...”
Pouco depois de Plinio haver ingressado nas fileiras do movimento mariano, suas atividades apostólicas começaram a lhe tomar todo o tempo disponível. Sua irmã, Dª Rosée, ia passar longas temporadas com o marido e a filha na fazenda em Cambará, e algumas vezes Dª Lucilia a acompanhou.
Famosa por sua fecunda terra roxa, aquela região estava em franco desenvolvimento. Embora cerradas matas exigissem denodo e tenacidade dos exploradores que por lá se aventuravam, os riscos eram logo compensados pela generosidade do solo, que prodigamente cumulava de frutos aqueles que o feriam com o ferro do arado.
Ciente das dificuldades que o início da exploração de uma fazenda sempre acarreta, Dª Lucilia incentivava o casal em seus meritórios esforços e, sobretudo, estimulava-os a confiarem na divina proteção que a tudo provê e assiste.
Porém, se por sua dedicação maternal era levada a acompanhar sua filha a tão inóspito local, a metade de seu coração ficava em São Paulo, onde havia deixado seu filho entregue às batalhas da vida: estudos universitários, emprego, serviço militar, além da pressão exercida pelo ambiente para fazê-lo entrar na farândola da chamada “modernidade”, hoje tão fora de moda. Porém, naqueles longínquos anos o brilho fátuo daquela “modernidade” ofuscava de tal modo os homens que estes não viam o abismo no qual acabariam por se precipitar.
O demônio, para mais facilmente tentar a humanidade, fazia como que coruscar de modo especial tudo quanto representasse uma ruptura com a Civilização Cristã, criando desse modo a ilusão de ser o progresso fruto do abandono da Fé. Não romper com os Mandamentos equivalia a perder irremediavelmente o trem do futuro... Assim, o erro e o mal se apresentavam com extrema jactância.
Dª Lucilia era para seus filhos uma estrela a brilhar durante a noite, indicando-lhes o caminho certo e conduzindo-os a porto seguro. Com sua presença, a insidiosa ação do espírito das trevas diminuía a intensidade. Por seu modo de ser, lembrava continuamente não estar a felicidade na febricitação e na busca desenfreada das riquezas e do prazer, mas sim no sereno gozo da paz de consciência, que só o cumprimento da Divina Lei é capaz de dar.
Uma carta, escrita de Cambará, deixa entrever o receio de que suas ausências amortecessem a vigilância e a resistência de seu filho, conclamando-o a não ceder à atração dos fulgores enganosos de satanás, por ela denominado “mefistófeles”.
Cambará, 16-5-929
Filho querido!
Tua carta de ontem deixou-me bem apreensiva, como bem podes imaginar, pois, conquanto tenha grande confiança em teus sentimentos, e na tua fé, tentação sempre é tentação, e por isso é preciso que te lembres que sabemos e conhecemos todos quem é o mefistófeles, e portanto, é tratar de fugir e às léguas, e agarrando-se a um Crucifixo! E o mais interessante, é que para “obrar”, aproveita-se de minha ausência... gosta da sombra! Diga-lhe1 que estás numa época muito especial de tua vida, de que pode depender teu futuro, e em que precisas usar de toda tua energia para aguentar o exercício militar; que, dada a tua negação pelo exercício em geral, e consequente falta de habito, te trará grande fadiga, além das quatro matérias a preparar, e ainda teu emprego; e que, portanto, pedes-lhe que adie estes convites para mais tarde. E que, entre nós, “Deus o permita na Sua infinita misericórdia”!, fiquem para as “calendas gregas”!!!
Sinto imenso que não possas passar aqui uns dias conosco..... principalmente à noite, acho uma falta enorme no meu filhão querido. Tens ido aos exercícios militares, e às aulas de direito?
Bem, “queridão”, passados os quinze dias, irei com a primeira boa companhia que siga para aí. Beijos à vovó, abraços aos da família. Com minha bênção, beijo-te e abraço-te muito e muito. De tua mamãe extremosa,
Lucilia
(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Luminosa e maternal proteção


Em muitas de suas cartas, Dª Lucilia enumera os atos de piedade por ela dirigidos ao Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora, em favor dos filhos que a Providência lhe dera. Praticava-os com inteira certeza do auxílio e proteção que obteria, a rogos daquela Mãe por excelência, Maria Santíssima. Sua profunda devoção incutia similar confiança a quantos com ela conviviam. Nesse sentido a atitude de um de seus sobrinhos — conhecido familiarmente por Rei, ou Reizinho, o mais íntimo dos amigos de seu filho Plinio — não deixava de ser expressiva.

A bênção e as cruzinhas na testa

Um ano e meio mais novo do que seu primo, Reizinho era auxiliado nos estudos por Plinio. Isto favorecia ainda mais um estreito relacionamento entre ambos. Nas vésperas das provas, era frequente passarem juntos a noite em claro, revendo a matéria. Chegado o momento de irem para o colégio, Plinio se dirigia ao quarto de Dª Lucilia para se despedir e lhe pedir a bênção, o que, aliás, nunca deixava de fazer antes de partir para os exames. Nessas ocasiões de mais importância, ela lhe fazia várias cruzes na testa, enquanto rezava interiormente algumas orações. Quando terminava, seu sobrinho também lhe pedia que o abençoasse de igual forma; ela acedia com boa vontade.
Assim, os dois partiam confiantes, convictos de que Nossa Senhora, no alto dos Céus, não faltaria ao pedido de tão boa mãe.

Quando Plinio, já um pouco mais velho, viajava para longe, repetia-se do mesmo modo a cena das cruzinhas. No hall de entrada da casa, na hora do último adeus, ela, que era um pouco mais baixa que seu filho, punha-se nas pontas dos pés e começava com toda a compenetração o singelo cerimonial. Plinio se inclinava um tanto, e comprazidamente recebia a bênção. Dª Lucilia estava bem ciente de que, segundo a doutrina católica, a bênção de uma mãe atrai efetivamente a proteção de Deus para um filho, e era o que ardentemente desejava. Daí talvez o fato de fazer vários sinais da cruz sobre a fronte dele, como forma insistente de implorar esse auxílio.

Uma Via-Sacra controvertida

No correr do ano de 1928 houve um fato na vida de Plinio que muito alegrou Dª Lucilia, pois, de algum modo, representava a realização, por especial dom do Sagrado Coração de Jesus, de seus mais entranhados anseios em relação a seu filho: foi o ingresso dele nas Congregações Marianas. Dentro em pouco, tornar-se-ia inconteste líder católico, e chegaria a ser eleito deputado pela Liga Eleitoral Católica.

Essa ascensão não se faria sem duros e renhidos combates, durante os quais Dª Lucilia, por sua presença e por seu apoio discreto — mas quão eficaz! — prestaria ao filho valioso auxílio.
A primeira batalha foi contra o respeito humano. A algumas pessoas pode parecer não apresentar tantas dificuldades essa luta, pois não exige argumentos nem estudo. Oh, ilusão! O instinto de sociabilidade e a tendência a imitar os semelhantes é tão forte no homem que, em muitos casos, ele prefere enfrentar em combate a própria morte a fugir, para não ser tachado de covarde pelos colegas e amigos.

Ora, na sociedade de então a prática da Religião era tida como fraqueza de espírito, própria a mulheres e crianças. Apresentar-se como católico praticante era considerado vergonhoso para um homem, razão pela qual bem poucos (principalmente nas classes elevadas) tinham coragem de fazê-lo.

A adesão de Plinio ao Movimento Católico deu-se nessa atmosfera. Em certo momento, decidiu ele tomar de público uma atitude através da qual manifestasse a irreversibilidade do rumo por ele encetado. Para isso escolheu a Missa das 10 horas de domingo em Santa Cecília, igreja naquele tempo frequentada pela alta sociedade. Boa parte do seleto público estava ali por mera conveniência social.

Apenas iniciado o Santo Sacrifício, Plinio — que já tinha cumprido o preceito dominical na Missa anterior — percorreu uma a uma as quatorze estações da Via-Sacra e, terminada esta, ajoelhou-se em lugar bem visível, tirou do bolso um tercinho azul que comprara expressamente para a ocasião e passou a rezá-lo. Obviamente, entre seus conhecidos os comentários não se fizeram esperar: “O Plinio virou carola!” Porém, ninguém teve coragem de lhe fazer direta ou indiretamente a mais leve insinuação.

Mas aqueles que tinham intimidade suficiente para isso, comentaram o fato com Dª Lucilia, procurando convencê-la a demover seu filho do caminho encetado. Afinal de contas, diziam eles, essa atitude significava voltar as costas ao futuro, pois não era entre beatos que ele conseguiria fazer carreira.

Estavam em jogo a fé e a perseverança de seu filho, e Dª Lucilia se mostrou irredutível, dentro de sua habitual serenidade. Por mais que insistissem, ela não saiu de sua posição. Que mal havia no que Plinio fizera? Estava muito bem, assim se deveria ser. E se algo devesse dizer a seu filho, seria unicamente para o elogiar.

Ante essa barreira de suave intransigência, a ofensiva da irreligião desistiu, ao menos ostensivamente, de seus nefastos intentos.

Conselho singular

Pouco tempo após a entrada de Plinio para o Movimento Católico, não tardaram os dirigentes das Congregações Marianas a discernir nele excelentes qualidades oratórias. Começaram a convidá-lo com certa frequência para fazer discursos e conferências, divulgando-se rapidamente por toda parte sua fama de bom orador.

Naturalmente, Plinio levava Dª Lucilia a algumas dessas solenidades, e ela deve ter experimentado as alegrias das mães quando vêem seus filhos falarem em público. Conquanto gostasse de ouvi-lo discursar, nunca o elogiava, porque tinha horror a que ele cedesse à tentação de vaidade ou de orgulho. E, por isso, não deixou de lhe dar repetidas vezes um singular conselho: — Filhão — dizia ela quando Plinio a tomava pelo braço ao retornarem para casa —, por pouco que fales, tuas palavras nunca serão suficientemente breves. Quando pensares que é hora de terminar, haverá já um bom número de pessoas na sala que estarão se perguntando quando é que vais acabar. Quanto menos falares, mais agradarás.

O filho, sempre amante dos conselhos da mãe, guardou-os para si, e daí por diante nunca mais se esqueceu daquela sábia recomendação ao fazer uso da palavra em público.

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quinta-feira, 7 de março de 2013

Transpondo o umbral dos 50 anos


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No oratório, uma carta

Ao entrar Plinio para a Faculdade de Direito, uma das apreensões que mais pesavam no espírito daquela mãe extremosa dizia respeito à fidelidade dele à Igreja Católica. Muitos rapazes, dos meios sociais que ela conhecia, não tiveram coragem de enfrentar a pressão dos colegas e do ambiente, acabando por abandonar não só a prática da religião como até mesmo a Fé.

Com o passar dos meses, porém, constatou ela com grande alegria que seu filho permanecia firme em sua adesão aos bons princípios.

Restava-lhe uma preocupação: como enfrentaria Plinio a árdua luta da vida? Talento e maturidade não lhe faltavam, mas daí a saber se alcançaria êxito em suas realizações, seguindo a esteira de seus ilustres antepassados, era outra questão. Procurava aconselhá-lo e guiá-lo, sem no entanto intrometer-se em sua vida particular.

Pouco depois de entrar para a Faculdade, Plinio, através de seu tio, Dr. Gabriel, então Secretário da Agricultura de São Paulo, conseguiu um emprego no Patronato Agrícola. Dª Lucilia considerava serem esses os primeiros passos de seu filho rumo a um brilhante porvir. E com fervor passou a pedir ao Sagrado Coração de Jesus que o protegesse e lhe proporcionasse êxito no emprego.

Patronato Agrícola
Testemunho de que suas preces estavam sendo atendidas foi uma carta enviada a Dr. Gabriel pelo distinto homem de letras, Dr. Eugênio Egas, diretor do Departamento Agrícola, onde Plinio trabalhava, pedindo que o jovem não fosse transferido para outro setor, pois lhe faria muita falta. A carta era tão elogiosa que Dr. Gabriel a entregou a Dª Lucilia, certo de lhe causar contentamento, e ela, em sinal de gratidão, guardou-a em seu oratório junto à imagem do Sagrado Coração, onde a conservou por longos anos.

Eis o texto:

Patronato Agrícola, 20-VI-27

Dr Gabriel
Prezado Dr. Gabriel, chegou ao meu conhecimento que o seu sobrinho Plinio vai para as Estradas de Rodagem. Para o Patronato é um desastre. O rapaz é ótimo, pontual, correto, e falando línguas presta-nos grande serviço, quando somos procurados por alemães, austríacos e semelhantes.

Não o remova, peço-lhe encarecidamente. A questão de ordenado, desde que o amigo remova o sr. Renato (que de pouco serve, por ser estudante de medicina, e não ter horário aproveitável) não tem importância, porquanto o orçamento em vigor tem verba para o pagamento dele, na base de 525 mil réis. Seja como for, eu preciso dizer-lhe que o Plinio representa as belas qualidades de duas famílias de Tradição: Corrêa de Oliveira e Ribeiro dos Santos.

Patronato Agrícola
O meu expediente vai sofrer com a saída de tão fino, correto, educado e zeloso funcionário. De resto, ele é estudante de direito, pelo que o meio do Patronato lhe é propício. Que vai fazer ele com engenheiros?

Esperando que o amigo não nos prive do trabalho desse distinto moço, subscrevo- me como sabe,
Seu velho amigo
Eugenio Egas

“Devo aproveitar o tempo que me resta a te guiar e aconselhar”

Embora a carta do Dr. Eugênio Egas atestasse as qualidades e a integridade de Plinio, nem por isso Dª Lucilia afrouxaria em seu dever de aprimorar com uns últimos retoques a educação deste. Por outro lado, sofrendo contínuos achaques, tinha ela a sensação de que não viveria muito e desejava apresentar-se ante o divino Tribunal tendo cumprido de modo exímio suas obrigações maternas. É o que se pode ver nesta carta, tão característica do afetuoso relacionamento entre ela e ambos os filhos, mesmo quando se via obrigada a adverti-los. Como de costume, sabia transformar as repreensões em suaves carícias.

Prata - 23-5-928

Plinio querido

Recebi ontem tua carta em que me dizes ter-te o “X” faltado ao respeito pelo telefone.... Não me dizes como foi a história, mas, lembra-te bem, que já eu te preveni que devias voltar ao seu escritório ou casa, para tratares pessoalmente teu negócio, e o fizeste pelo telefone, o que não foi nada, nada correto. Esqueces de que és uma criança perto dele, que além de muito mais velho, é um senhor bem colocado, e até adulado na alta sociedade, e além disso, nenhum de nós, e você ainda menos, tem intimidade com ele para falar-lhe pelo telefone sobre negócios, ou dar-lhe satisfações pela longa demora em dar-lhe a resposta atrasada, o que já foi outra falta de delicadeza, de tato, meu filho. Ignoro o que entre ambos se passou, mas com isto, deste uma amostra de falta de distinção, de finura, na tua educação, e nobreza nos teus gestos ou atos, ou mesmo deferência da mocidade para com os mais velhos, e os que já na vida galgaram uma certa posição, pelo seu mérito pessoal, ou boa chance. Sei que estou desagradável hoje, meu querido, mas lá vai outra observação..... é o meu dever...! Filho, por um mês vais substituir o secretário do Instituto: não te esqueças de que este tempo é rápido, e que se tomares uns certos ares de superior e fores impertinente, medindo as pequeninas coisas que fizerem os outros, te tornarás antipatizado e hostilizado por todos, e quando voltares para o teu lugar, dirão que estás com cara de “bezerro desmamado”, como diz o público dos presidentes da república quando deixam o poder. Sobretudo, querido, é preciso que exerças este cargo com tanta pontualidade e acerto, e sem distrações que, quando o secretário voltar, não possa fazer-te desagradáveis observações para vingar-se de tuas correções de português. Peço-te também que trates a todos como gostas de ser tratado, aí e em toda parte, e nada, nada de “mandos”!, sim?

Tive ontem uma nova tontura, porém não tão forte como a última, o que obrigou-me a guardar o leito toda a tarde, mas hoje levantei-me. Como sabes, estes achaques são avisos de que devo aproveitar o tempo que me resta antes da viagem, a te guiar e aconselhar, querido da minha alma, e espero que não vás zangar-te e amarrotar minha pobre carta, nem fazer olhos duros, quando os tens tão lindos, quando estás bonzinho!

Estou com tantas saudades de vocês que nem imaginam. O que será de mim quando Rosée for para longe, e se eu viver um pouco, você também fizer seu ninho?

Estou cansada. Termino recomendando-me a todos, e beijando-te, abraçando-te e abençoando-te muito.

De tua mãe muito extremosa,
Lucilia

Beijos a Rosée e Maria Alice1, e um abraço ao Antônio.


Se saíssem estas linhas da pena de uma pessoa comum, poder-se-ia elogiar seu profundo bom senso, qualidade rara em nossos tumultuados dias. Mas, sabendo-se terem elas brotado do amor maternal de Dª Lucilia, os conselhos que transmitem mais parecem fruto de uma sábia e virtuosa prudência, haurida no Divino Coração de Nosso Senhor.

Tal é o caso das recomendações de suavidade e diplomacia no trato com superiores e inferiores, as quais denotam profundo senso de hierarquia. De outro lado, torna-se patente uma vez mais que sua imensa bondade não a impedia de ver, até o fundo, a maldade da natureza humana, procurando precaver Plinio contra as ciladas que a inveja e o amor-próprio ferido podem armar.

(Transcrito, com adaptações, da obra “Dona Lucilia”, de João S. Clá Dias)

1) Filha de Rosée e Antônio de Castro Magalhães

sexta-feira, 1 de março de 2013

Transpondo o umbral dos 50 anos


Vinte e dois de abril de 1926. Dª Lucilia completa 50 anos. Nunca esperara atingir essa idade, pois sua frágil saúde continuamente lhe dava a sensação de que em breve poderia falecer. Na verdade, ainda viveria mais 42 longos anos.

Para comemorar a feliz data, reuniram-se no palacete Ribeiro dos Santos seus familiares mais próximos. Em contraste com a atmosfera geral de alegria, quão diferentes eram as cogitações de seu coração! A vida já lhe tinha dado bastantes decepções e havia muito que não guardava ela qualquer ilusão.

Imersos no passado estavam os saudosos e tranquilos dias da infância na pacata Pirassununga de antanho; a radiosa juventude na “São-Paulinho” da Belle Époque; a fundação do lar, em meio às incertezas do início do século XX; o nascimento dos filhos; a cirurgia na Alemanha; os belos dias em Paris e a educação de Rosée e Plinio... enfim, quantas alegrias, mas também quantas dores e tristezas!

Dª Lucilia, ao fim de cada etapa de sua existência, com olhar sereno e consciência tranquila, podia dizer com São Paulo: “Bonum certamen certavi” — “combati o bom combate”. Mas muito ainda faltava para poder afirmar: “Cursum consummavi, fidem servavi” — “acabei a minha carreira, guardei a Fé” (2 Tim. 4, 7), pois o mais difícil estava ainda por trilhar.

O mundo que a vira nascer, impregnado das últimas fragrâncias da Civilização Cristã, cessara de existir. E ela, fiel ao ideal que abraçara — o reinado do Sagrado Coração de Jesus — encontrava-se quase isolada numa sociedade cada vez mais distante dos divinos preceitos e desenfreadamente entregue ao gozo da vida.

A auréola de cabelos prateados que lhe iam ornando a fronte era testemunho das duras provações que ficaram para trás. Seu olhar denotava a determinação tranquila e resignada de abraçar todas as cruzes que a Providência quisesse colocar no longo caminho ainda a percorrer. Que desagradáveis surpresas reservaria o futuro a Dª Lucilia?

Preocupava-a sobremaneira o rumo que seus filhos tomariam. À medida que iam amadurecendo, os perigos necessariamente aumentavam, e com eles, as apreensões maternas.

O casamento da filha

Quantas circunstâncias há na vida de todos, nas quais se mesclam dor e alegria! .oi o que se passou com Dª Lucilia ao se aproximar o dia do matrimônio de sua filha com Antônio de Castro Magalhães, ativo homem de negócios, filho de abastados agricultores de Minas Gerais.

Para conferir esplendor à festa de casamento de sua filha, Dª Lucilia nenhum esforço poupou. Em meio ao júbilo daquela data, no entanto, seu maternal coração, todo feito de solicitude, também se revestia de tristeza, pois para ela nada melhor do que permanecer em companhia dos entes mais amados. “O que será de mim quando Rosée for para longe, e se eu viver um pouco, você tambem fizer seu ninho?”. Expressivas palavras, escritas por Dª Lucilia numa carta a Plinio, cerca de um ano após o casamento de Rosée.

Efetivamente, algum tempo depois das referidas núpcias, Plinio e Antônio Magalhães compraram a Fazenda Santa Alice, que este último dirigiria, experimentado como era nas coisas do campo. Situada em Cambará, no norte paranaense, região muito fértil e de futuro promissor, ali os recém-casados passaram longas temporadas.  

Apesar de a fazenda distar 500 km de São Paulo, foi possível a Dª Lucilia visitá-la, pois uma estrada de ferro ligava Cambará à capital paulista.


Em relação ao filho, eram outros os cuidados de Dª Lucilia.

Continua no próximo post.